UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA – UNOESC
CENTRO DE CIÊNCIA DA EDUCAÇÃO, HUMANAS E LETRAS
ORIENTADOR: PROF. DR. ROQUE STRIEDER
MESTRANDA: NATALINA SALETE BORTONCELLO DA SILVA
DISSERTAÇÃO
FILOSOFIA: UMA POSSIBILIDADE PARA REFLETIR GRANDES
TEMAS/PROBLEMAS DA ATUALIDADE HUMANA
Maravilha p/Joaçaba
2007
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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA – UNOESC
CENTRO DE CIÊNCIA DA EDUCAÇÃO, HUMANAS E LETRAS
ORIENTADOR: PROF. DR. ROQUE STRIEDER
MESTRANDA: NATALINA SALETE BORTONCELLO DA SILVA
DISSERTAÇÃO
FILOSOFIA: UMA POSSIBILIDADE PARA REFLETIR GRANDES
TEMAS/PROBLEMAS DA ATUALIDADE HUMANA
Dissertação apresentada ao Programa de
Pesquisa: Ensino-Aprendizagem, da UNOESC —
Joaçaba/SC.
Maravilha p/Joaçaba
2007
2
3
4
Que o jovem não espere para filosofar, nem o
velho de filosofar se canse. Ninguém, com
efeito, é ainda imaturo ou já está demasiado
maduro para cuidar da saúde da alma. Quem
diz não ter chegado sua hora de filosofar ou
já ter ela passado, fala como quem diz não
ter ainda chegado ou já ter passado a hora
de ser feliz.
EPICURO
5
DEDICATÓRIA
Dedico essa Dissertação ao meu pai Jorge
Bortoncello (in memoriun) e minha mãe Ilda
de Ávila Bortoncello, os quais devo minha
vida biológica e espiritual.
Aos meus filhos João Filho, Ana Paula e
João Antônio e a meu esposo João Clovis da
Silva, os quais amo muito.
6
AGRADECIMENTOS
Neste momento especial de reflexão da vida e das realizações acadêmicas
resta agradecer:
- Ao meu Orientador Prof. Dr. Roque Strieder, pela dedicação acima de seu
compromisso acadêmico, possibilitando minha ascensão e motivação para concluir
este Mestrado.
- Aos demais professores do curso pela colaboração e orientação nas discussões e
formação de novas concepções.
- Aos membros da banca pela significativa e indispensável contribuição na
conclusão desta Dissertação.
- Aos colegas de Mestrado que me apoiaram nas horas difíceis.
- Aos colegas de trabalho da EEB Nossa Senhora da Salete, especialmente a
Rosemari Barden Turcatto e Antônio Valmor de Campos.
- Às pessoas que acreditam e confiam em meu potencial, que mesmo não estando
nominados fazem parte da minha história.
- Aos amigos especiais que sabem da minha consideração.
- Aos meus doze irmãos e irmãs e todos os familiares, principalmente, a Inês, a Ana,
o Jorge Odilar, minha cunhada Silvana e meu afilhado Diego, pela participação
especial.
- E acima de tudo, agradeço a Deus, ao Universo e aos meus Guias Espirituais, por
me concederem luz, proteção e sabedoria em todos os momentos da minha vida.
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RESUMO
A problemática sobre a presença ou ausência da Filosofia na educação escolar
brasileira, sempre foi conflituosa e tem oscilado muito no decorrer das várias fases
da educação brasileira. Constata-se a ausência, em determinadas fases da reflexão
filosófica nas escolas. Com a consolidação do ensino público a polêmica
permanece, mas, argumentos cada vez mais consistentes a consolidam,
gradativamente, como um componente curricular. Para conhecer e entender melhor
a relevância da filosofia na vida escolar e para o cotidiano de vida dos alunos, foi
desenvolvido uma pesquisa junto a alunos e professores do Ensino Médio em
escolas do município de Maravilha-SC. A temática central versa sobre motivação ou
não em relação à Filosofia e os conteúdos trabalhados em sala de aula. A
problematização foi assim expressa: Como e que tipo de reflexão é conduzida pelos
professores que trabalham a disciplina de filosofia em escolas de Ensino Médio do
município de Maravilha-SC? Os objetivos foram: verificar quais temas são levados
pelos professores para serem refletidos junto aos alunos; o que pensam os alunos
em relação aos temas e às reflexões feitas nas aulas de Filosofia; ainda, verificar
quais as estratégias metodológicas que favoreceram reflexões participativas e
contribuem na construção de conhecimento. A pesquisa teve caráter qualitativo e
contou com a participação de oito alunos da Escola de Educação Básica Nossa
Senhora da Salete, e seis Escola de Educação Básica João XXIII, dois do Centro de
Educação de Jovens e Adultos – CEJA, dois do Centro de Educação Universo do
Saber – CEUS e os professores que lecionam filosofia nas mesmas. Como
instrumento de coleta foi utilizado um questionário. Entre os resultados destacamos
a afirmação de que os temas levados para discussão integram conteúdos da
Filosofia. Que a postura do/a professor/a é fundamental para a motivação da
aprendizagem dos alunos. Os temas discutidos, quando envolvem situações do
cotidiano e afetas à vida dos jovens, merecem atenção e motivam a participação. Os
alunos destacam o desejo de compreender o mundo, em sua estrutura e
configuração, bem como as possibilidades da vida e em vida. Temas sobre questões
sociais, éticas e sobre a condição humana, tanto no âmbito da formação, quanto no
da preparação para o trabalho ou no relacionamento interpessoal, são os mais
promissores em termos de motivação. A Filosofia continua sendo referência de
significativa importância para o aperfeiçoamento pessoal, para a formação humana,
para a reflexão sobre a condição existencial, o ser e o estar aqui, sem negligenciar
os inúmeros desafios da formação profissional.
Palavras-chave: Filosofia; Reflexão e motivação; Temas filosóficos.
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ABSTRACT
The problems on the presence or absence of philosophy at the Brazilian school
education, has always been confrontational and has oscillated much during the
various stages of Brazilian education. There is a lack in certain phases of
philosophical reflection in schools. With the consolidation of public education remains
a controversy, but arguments increasingly consistent to consolidate, gradually, as a
component curriculum. To know and better understand the relevance of philosophy in
school life and the daily life of the students, a search was conducted with students
and teachers of high school in the municipality of schools Wonder-SC. The central
theme versa on motivation or not in relation to the philosophy and content worked in
the classroom. The problematization was well expressed: How and what kind of
reflection is conducted by teachers who work the discipline of philosophy in schools
from high school in the commune of Wonder-SC? The objectives were: check which
subjects are taken by teachers to be reflected with the students, the students who
think in relation to the themes and the reflections made in class of Philosophy; yet,
check what strategies methodological reflections which facilitated participatory and
contribute in construction of knowledge. The qualitative research had character and
counted with the participation of eight students of the School of Basic Education Our
Lady of Salete and six School of Basic Education John XXIII, two of the Center of
Education for Youth and Adults - JSCA, two of the Centre for Education Worlds
Learn from - CEUS and teachers who lecionam under the same philosophy. How
instrument was used to collect a questionnaire. Among the findings highlighted the
claim that the issues brought for discussion integrate content of Philosophy. That the
attitude of / a teacher and the motivation is fundamental to the learning of students.
The topics discussed when involve situations of daily life and afetas the lives of
young people, deserve attention and motivate participation. Students highlight the
desire to understand the world in its structure and configuration, as well as the
possibilities of life and in life. Subjects on social issues, ethical and the human
condition, both in the field of training, as in the preparation for work or in
interpersonal relationships, are the most promising in terms of motivation. The
philosophy remains reference of significant importance for improving personnel,
training human, for reflection on the existential condition, and to be here, without
neglecting the many challenges of training.
Keywords: Philosophy; Reflection and motivation; philosophical themes.
SUMÁRIO
9
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .......................................................................................... 10
1.1 PROPOSTA METODOLÓGICA ...................................................................................... 16
1.2 POPULAÇÃO ATINGIDA E PROCEDIMENTOS PARA A COLETA DE DADOS .... 18
2 NASCIMENTO E EVOLUÇÃO DA FILOSOFIA .......................................................... 20
2.1 OS PRIMEIROS FILÓSOFOS .......................................................................................... 21
2.2 CONCEPÇÕES FILOSÓFICAS DOS PENSADORES CLÁSSICOS ............................. 23
2.3 PERÍODO HELENÍSTICO ................................................................................................ 25
2.4 A FILOSOFIA NO PERÍODO MEDIEVAL ..................................................................... 28
2.5 A IDADE MODERNA....................................................................................................... 31
2.6 A IDADE CONTEMPORÂNEA ....................................................................................... 33
2.7 A FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA ............................................................. 35
3 RELAÇÃO DA FILOSOFIA COM OUTRAS ÁREAS DO CONHECIMENTO ........ 43
3.1 FILOSOFIA: RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO X ESCOLA ........................................ 47
3.2 PROPOSTAS NOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS PARA O
ENSINO MÉDIO - PCNEM .................................................................................................... 49
3.3 A REFLEXÃO FILOSÓFICA E A POSSIBILIDADE DE MUDANÇA NO MODO DE
PENSAR E VIVER .................................................................................................................. 50
3.4 OS GRANDES TEMAS A SEREM DISCUTIDOS NAS AULAS DE FILOSOFIA ...... 51
4 SISTEMATIZAÇÃO DOS DADOS EMPÍRICOS .......................................................... 63
4.1 REFLEXÃO SOBRE AS INFORMAÇÕES OBTIDAS JUNTO AOS ALUNOS ........... 63
4.2 REFLEXÕES SOBRE AS INFORMAÇÕES OBTIDAS JUNTO AO PROFESSORES . 74
CONCLUSÃO......................................................................................................................... 80
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 88
10
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A sociedade está vivendo momentos de transformações extremas em todos
os seus segmentos e a escola inserida neste meio, passa por diversas discussões
para atender, da melhor forma, esta nova demanda de educandos, com vivências e
saberes diferentes daqueles vividos pelos seus professores.
Diante disto a escola busca adequar sua matriz curricular e surgem as
discussões a cerca da importância, o que e para quem trabalhar determinado
componente curricular.
Neste desenrolar, a discussão em torno das disciplinas do eixo das humanas,
passaram a ganhar força entre os professores e principalmente entre os alunos.
Hoje, pode-se observar que as formas desviam a atenção dos conteúdos, a
ênfase sobre os heróis desvia a atenção do processo histórico. Produz-se uma visão
compartimentalizada da realidade, não há interação entre as partes, uma está
desconectada da outra. Subjacente a esta maneira de ver a sociedade
fragmentariamente, a esse fenômeno de restrição da capacidade de pensar em
termos de estruturas, está a concepção acumulativa do conhecimento, a concepção
de que aprender significa absorver informações e não proceder o relacionamento de
umas com as outras.
Dessa forma, a realidade passa a ser reproduzida de maneira fragmentada,
sem haver correlação entre as partes e o todo que a compõe. O indivíduo passa a
ter uma visão exclusiva de uma única possibilidade estrutural. Então, continuamos
adeptos das estruturas e exatamente da concepção de Democrito e Leucipo: o
átomo tem existência. Por exemplo, as concepções da física quântica reconhecem a
existência de processos e não de estruturas sólidas e determinadas, sobre as quais
nada pode ser mudado.
No entanto isso é uma proposição que carece de afirmação para tornar-se
majoritária, por enquanto prevalece a já consolidada concepção de uma sociedade
imutável, de verdades absolutas – estruturada sobre supostas bases sólidas - nada
se muda e o caminho é lógico. Assim, os professores que não estabelecem relações
entre a filosofia, a arte, a ciência, e os aspectos sociais, pouco criam, provocando
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uma deformação da curiosidade natural do educando, formando um sujeito que
pouco se interessa pela realidade social.
A dificuldade, porém, é preparar um professor/professora que esteja
preocupado com as diversas dimensões que ultrapassam o dualismo, buscando
guarida em novas posições da vida social, passando pela construção do
conhecimento e manutenção de informações ou dos dados, que não estejam
isolados do conjunto. É preciso situar as informações e os dados em seu contexto
fazendo reflexões permanentes, para que adquiram sentidos, de acordo com as
condições e os movimentos sociais em que ocorrem.
Nos tempos atuais, por uma especialização suscitada pela competitividade
profissional, sobretudo nas áreas técnicas, vemos que essa especialização tem se
dado num ritmo cada vez mais acelerado e quase sempre em detrimento de uma
concepção de mundo mais abrangente, desprezando a constituição de uma base
cultural sólida dos educandos desse nível de ensino. Nesse sentido, Silva (1992, p.
162) chama atenção, “[...] um tratamento de questões que possam fornecer os
contornos da base cultural [...] ou se dá no nível do segundo grau ou, na prática e na
maioria das vezes, nunca mais”.
No Brasil, durante o período colonial, mais precisamente em 1534, aconteceu
a primeira experiência pedagógica formal como educação escolar, que se baseava
na pedagogia dos jesuítas. Alves (2002, p. 10), explica que o ensino acontecia em
dois estágios: um ensino secundário e um ensino superior. Neste contexto
pedagógico, a filosofia correspondia a um curso superior incluindo teologia, onde se
estudava a filosofia que interessava realmente aos projetos dos jesuítas.
No Período Pombalino, Marquês de Pombal realizou várias reformas,
principalmente no campo educacional, representando uma abertura às idéias
iluministas e liberais. A mais significativa destas reformas, aconteceu em 1772, com
a fundação da Universidade de Coimbra. Foram criadas mais duas faculdades:
matemática e filosofia. Segundo Alves (2002, p.14), “a filosofia é compreendida
neste período como ‘ciência natural’, numa perspectiva pragmática e utilitária, de
acordo com a ‘concepção de mundo burguesa’, que tem como sua maior
preocupação o domínio do mundo material.”
12
Por volta de 1808, durante o Período Imperial, houve uma estruturação do
ensino superior responsável pela reprodução política e administrativa. As disciplinas
de ciências naturais foram transferidas do curso de filosofia controlado pela igreja,
para os cursos médicos e para a academia militar, e depois para a escola
politécnica.
Após a Independência, em 1822, a estrutura escolar modificou-se, passando
a existir o setor do ensino estatal (secular) e o ensino particular (religioso e secular),
sendo do Estado a responsabilidade de organizar o ensino por ele ministrado,
conforme Alves (2002, p. 21).
A problemática em torno da presença ou ausência da Filosofia na educação
escolar oscilou muito depois da Proclamação da República. Por ocasião da Primeira
República, em 1889, as reformas educacionais significavam formar uma nova elite
para um novo Estado. A República fundada com idéias liberais e positivistas,
contrapunha-se à Monarquia e à Igreja católica, e uma das medidas adotadas foi
descentralizar o poder, instituindo como forma de governo, o Federalismo. Este
rompimento teve diversos reflexos na organização social, política e econômica, com
reflexos na educação.
Desta forma, o ensino escolar se tornou o principal instrumento ideológico do
Estado, sendo propostas várias reformas educacionais. Alves (2002, p. 26-27),
esclarece que Benjamin Constant, ministro da Instrução Pública, baixou o decreto nº
981 de 8 de novembro de 1890, antecipando-se à Constituição de 1891 nas
reformas educacionais, introduzindo disciplinas científicas nos currículos escolares.
Porém, pela primeira vez, a filosofia, enquanto disciplina escolar, fica ausente do
currículo.
Alves cita Cartolano (1985, p. 47/49), na tentativa de explicar o processo de
inclusão e exclusão da Filosofia no currículo:
Sendo retirada do currículo na Reforma de Benjamin Constant, em
1890, que conferia predominância à parte científica, a filosofia
retorna ao currículo em 1901, com a Reforma de Epitácio Pessoa,
que acentuava a parte literária, retirando sociologia, biologia e moral
e incluindo lógica no 6º ano secundário; em 1911, Rivadávia da
Cunha Corrêa, então ministro da Justiça e Negócios Interiores,
parlamentar ligado aos positivistas do Rio Grande do Sul, empreende
a terceira reforma republicana, no período da sua gestão, 1910-1914,
conhecida como Reforma Rivadávia Côrrea, que torna a retirar a
filosofia do currículo, ao introduzir uma organização mais prática dos
13
programas do Colégio Pedro II; em 1915, uma nova reforma se faz
necessária, a de Carlos Maximiliano, que volta a contemplar a
filosofia no currículo, mas, num curso facultativo, que deveria ser
cursado para além das disciplinas obrigatórias; e, finalmente, com a
Reforma Rocha Vaz, em 1925, tem-se a última reforma educacional
até 1930, e a filosofia volta a figurar no currículo como matéria
obrigatória. (2002, p. 29).
O segmento social que o aluno pertence é um fator importante, na formação
de seus conhecimentos, pois, como um ser social, sente os reflexos do meio que
está envolvido, e, a partir dele é influenciado. Mas acima de tudo interage numa
troca recíproca de saberes, desperta a necessidade de compreensão de si mesmo e
do outro para aperfeiçoar-se, a partir de comparativos.
As aulas de filosofia podem tornar-se um objeto primordial dessa
compreensão e interação. Em decorrência disso, essas aulas tornam-se um
instrumental indispensável no presente projeto de pesquisa.
Diante da realidade que estou vivenciando, como professora de Filosofia,
preocupada com a educação, me senti motivada em conhecer o que os alunos do
Ensino Médio pensam sobre a Filosofia, se há motivação pela disciplina ou não. Da
mesma forma pretendo buscar elementos sobre os motivos dos alunos adotarem
uma ou outra posição. Também busco lançar um olhar sobre a metodologia e saber
quais conteúdos ministram nas aulas de Filosofia.
Serão abordados os pensamentos de autores atuais e contemporâneos ou
pós-modernos, nos quais se buscará subsídios para contribuir na elucidação das
questões levantadas, como: Dalton José Alves (2002), Celso João Carminati (2003),
Maria Cartolano (1985), Gabriel Chalita (2005), Marilena Chauí (2004), Maria Lúcia
de Arruda Aranha (1992), Cipriano Carlos Luckesi (1995), Morin (2002), Maturana
(1995), Assmann (1996), Lipmann (1990), entre outros.
Os PCNs e a Proposta Curricular de Santa Catarina, também servirão de
subsídios indispensáveis nas reflexões e comparativos necessários ao andamento
da construção da pesquisa e análise dos resultados, e as inter-relações com os
demais componentes curriculares.
Esse relatório é uma tentativa conhecer a realidade das escolas de Ensino
Médio do município de Maravilha em relação à disciplina de filosofia. Ressaltando
sua importância e os aspectos que envolvem sua obrigatoriedade no currículo.
Pretendemos compreender o motivo pelo qual parte dos alunos, aparentemente,
14
apreciam as aulas de filosofia e outros dizem simplesmente que não há motivação
para estudá-la.
A construção de espaços da Filosofia e das Ciências Humanas em
sociedades industriais e tecnológicas apresenta-se frágil, pois o ser humano, e, por
conseguinte os conteúdos selecionados para serem inseridos nas propostas e
planos de educação não refletem o conjunto de procedimentos necessários para
assegurar a afirmação deste espaço.
Um exemplo é o que consta na Proposta Curricular de Santa Catarina e nos
Parâmetros Curriculares Nacionais, que ensaiam também a indicação de algumas
concepções, no entanto sem respaldo na prática e postura dos educadores.
A questão é se estes conteúdos seriam suficientes para apresentar uma visão
ampla do contexto social, tendo a Filosofia como ferramenta indispensável neste
processo.
Se o nosso viés for pela possibilidade de a Filosofia ser capaz de modificar
comportamentos e situações ao ponto de produzir alterações sociais significativas,
será necessária uma compreensão ainda mais profunda da importância que ela
representa no processo. Como conseqüência dessa realidade, outras formas de
compreensão da sociedade haveriam de aparecer e invadir rapidamente a vida
social. Poderia ser dito que estaria em curso e processo de mudança no
comportamento e na visão social.
Essa reflexão pode vir do diplomado ou do especialista que conhece
maravilhosamente o seu domínio, com um nível de instrução suficientemente
elevado para manter o seu status profissional, mas que, enquanto executante,
presta-se apenas ao papel de repassador de conhecimentos ou conteúdos. Como
mero executor ou consumidor, já não se interessa pelo resto da vida social, (pois
não se sente responsável pela participação das decisões), ao menos não demonstra
na prática esse compromisso.
Ao lançar um olhar sobre o processo participativo e democrático, percebe-se
a ausência de comprometimento da maior parte da população que não se sente
motivada ou então prestigiada para participar, opinar e sugerir.
A falta de uma visão mais ampla e reflexiva por parte dos educadores que
atuam na disciplina da Filosofia ou mesmo a perda de visão de totalidade leva o
15
professor a enfatizar mais o detalhe, que o conjunto no processo de ensino. A
particularidade passa a conduzir os objetivos do ensino, dificultando a abstração e a
compreensão das relações dos objetos em estudo, correndo o risco de produzir uma
visão reduzida do mesmo.
A Filosofia não se propõe a resolver os problemas de ninguém, não faz
milagres, mas pode ser utilizada como contribuição capaz de fomentar as reflexões
indispensáveis, para compreender situações e problemas que do dia-a-dia e superálos. Como dizia Sócrates: “Conheça-te a ti mesmo”, o conhecimento leva ao agir e
ao desafio; por isso é que se deve pensar bem antes de agir.
Ao escolher o tema: “Filosofia: Uma Possibilidade Para Refletir Grandes
Temas/Problemas da Atualidade Humana”, tinha a idéia de discutir especificamente
“A atuação na disciplina de Filosofia dos profissionais, habilitados ou não, nas
escolas de Ensino Médio do município de Maravilha/SC e as reflexões inerentes às
mesmas”, sendo esta a delimitação do tema.
Entre as inquietações presentes, ao escolher o tema, defini uma como
prioritária e problema de pesquisa “Como e que tipo de reflexão é conduzida pelos
professores que trabalham a disciplina de filosofia, nas escolas de Ensino Médio do
município de Maravilha/SC?”
A partir do problema a definição dos objetivos. Como objetivo geral: “Procurar
entender como é feita a reflexão na disciplina de Filosofia, pelos professores e
alunos de Ensino Médio, do município de Maravilha.”
Por sua vez, como objetivos específicos:
1 Verificar quais temas são levados pelos professores para serem refletidos junto
aos alunos;
2 Verificar o que os estudantes do Ensino Médio pensam em relação às reflexões
feitas nas aulas de Filosofia;
3 Verificar as estratégias metodológicas que favoreceram reflexões participativas e a
construção/aquisição de conhecimento.
16
1.1 PROPOSTA METODOLÓGICA
Este estudo está classificado como descritivo, pois irá expor características de
uma determinada população, conforme sustenta Vergara (2000).
Foi empregada uma abordagem qualitativa, pois, para Bourdieu (1989, p. 25)
é a: “arrogância da ignorância” que faz com que se dê uma aparência de escolha
metodológica àquilo que nada mais é do que a “necessidade tornada virtude, [...]
Escolhe-se um método porque não se tem condições de operar com um outro”.
Foi feita por amostragem levando em consideração o número de alunos das
escolas e os professores que atuam nelas, como professores e professoras de
Filosofia, sejam habilitados ou não. Como instrumento de coleta de dados foi
utilizado um questionário.
A partir deste instrumento metodológico pretende-se obter as informações
quanto à motivação e desmotivação da disciplina de Filosofia na escola de Ensino
Médio, das Escolas do município de Maravilha/SC, como está proposto na presente
dissertação.
O desafio atual do trabalho em Filosofia é buscar alternativas ao positivismo
que concebe a ciência como instrumento capaz de resolver todos os problemas da
vida, sejam eles de ordem espiritual, social ou financeira. Numa alternativa
positivista são evitadas as oscilações que possam pautar reflexões diferenciadas,
ficando numa linearidade. Isso até poderia ser aceitável em processos das ciências
naturais, mas não concebível, por exemplo, em determinadas reflexões filosóficas.
O procedimento positivista induz a uma postura quantitativa, limitando as
ações à análises matemáticas, sem considerar os aspectos qualitativos que
envolvem o contexto da pesquisa, o objeto pesquisado e o próprio pesquisador. A
pretensão foi ultrapassar este nível de pesquisa buscando amparo em alternativas
qualitativas que permitam reflexões mais amplas sobre os resultados e os
procedimentos adotados na realização da pesquisa.
Mesmo sabendo que há uma inclinação metodológica pela postura cartesiana
ou positivista, nos seminários oferecidos pelo programa de mestrado foi dada a
oportunidade de lançar olhares sobre outras possibilidades de “codificar” o
17
conhecimento, sendo este visto como o resultado da interação da visão de mundo
em que o sujeito humano, não de forma isolada, mas de conjunto.
Uma boa reflexão pode contribuir com o desenvolvimento da percepção
ultrapassando os limites dos sentidos – visão, tato, olfato, audição, paladar – e prédispondo o ser humano como parte desse mundo, elaborando seus próprios
conceitos.
A idéia que o mundo não é apenas um conjunto de coisas isoladas se encaixa
a essa proposta de reflexões filosóficas feitas ou a fazer nas aulas de Filosofia, no
Ensino Médio. Também é um caminho aceitável na implementação da presente
proposta de pesquisa, que precisa levar em consideração todos os aspectos que
circundam os elementos envolvidos, professores e estudantes no papel de
implementar reflexões a partir também das suas concepções, sem desconsiderar as
influências dos sentimentos e das emoções na postura dos mesmos.
Ressalto aqui, mesmo a despeito de alguns, que não há um isolamento
irrestrito entre as propostas metodológicas apresentadas atualmente pela academia,
pois estas se encontram inseridas em contextos diferentes, com resultados
imprevisíveis, muitas vezes.
Com a adoção desta proposta metodológica a parte empírica da pesquisa
teve a intenção de estabelecer relações entre os dados e os pressupostos teóricos
apresentados e discutidos, no intuito de tornar o conhecimento um elemento de
reflexão. A questão é compreender como o conhecimento filosófico é capaz de
afetar na consciência das pessoas. A Filosofia pode ser um referencial que favoreça
a identificação da percepção que os seres humanos têm desse mundo.
Ainda é possível justificar a adoção dessa proposta metodológica por sua
proximidade com a Filosofia: “A fenomenologia é um método filosófico que analisa o
processo intelectual, do qual nós introspectivamente somos conscientes, sem
considerar as possíveis conexões que nos são dadas com os objetos externos
existentes. O mundo é visto de forma pura, livre de associações com a realidade que
vivemos” (CHALITA, 2005, p. 369).
Reconheço a fragilidade dessa concepção quanto a falta de determinação de
um método rigoroso em sua postura, no entanto, a flexibilidade que ela oferece
permite maior amplitude das reflexões propostas ou as realizadas a partir da
18
provocação das questões propostas aos estudantes e professores que se
dispuseram a ser parceiros de pesquisa.
1.2 POPULAÇÃO ATINGIDA E PROCEDIMENTOS PARA A COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados junto às escolas de Ensino Médio do município de
Maravilha. São quatro escolas que oferecem este nível de ensino: Duas escolas
públicas do ensino regular, a EEB João XXIII e EEB Nossa Senhora da Salete, uma
escola particular, Centro de Educação Universo do Saber (CEUS) e Escola de
Educação de Jovens e Adultos (CEJA).
Definidas as unidades escolares, o momento seguinte foi de realizar os
contatos com as respectivas direções das escolas solicitando permissão para a
feitura da pesquisa, explicando seus objetivos e propósitos. Em seguida a proposta
foi apresentada em todas as salas de aula das escolas com curso de Ensino Médio.
Após breve explanação sobre o projeto, foi disponibilizado aos alunos o
questionário, o qual foi respondido pelos que demonstraram interesse.
Responderam um grupo de alunos de cada escola por turno, assim
distribuídos: EEB Nossa Senhora da Salete, dois alunos da primeira série do turno
matutino e um aluno de cada um dos outros turnos e dois alunos da terceira série do
turno matutino e um aluno de cada um dos outros turnos, totalizando oito alunos.
Da EEB João XXIII, um aluno da primeira série de cada turno e um aluno da
terceira série de cada turno, totalizando seis alunos. No Centro de Educação de
Jovens e Adultos – CEJA, foram dois estudantes no total e no Centro de Educação
Universo do Saber - CEUS, foi um aluno da primeira e um aluno da terceira série. O
total geral foi de 10 alunos, escolhidos a partir dos questionários respondidos nas
escolas, respeitando a proporcionalidade entre os sexos.
Com relação aos Professores e Professoras que lecionam Filosofia nestas
escolas, diplomados ou não na área, foram convidados a participar da pesquisa,
sendo em número de cinco.
O questionário caracteriza uma forma de levantamento de dados que permite
uma análise mais detalhada das respostas oferecidas pelos entrevistados.
19
A apresentação dos dados coletados serviu para desenvolver as reflexões
considerando o contexto em que está inserido, permitindo as abordagens
qualitativas inerentes aos estudos desta natureza.
A intenção do capitulo seguinte é oferecer um referencial que possibilite, de
forma prática a contextualização do pensamento filosófico, seus principais autores e
idéias desenvolvidas por cada um deles, nos diferentes tempos históricos. Mesmo
sabendo que pode parecer prescindível, acredito na importância do mesmo,
principalmente imaginando que a presente pesquisa pode ser acessada por pessoas
não diplomadas na filosofia, as quais teriam facilidades na compreensão do texto
com os elementos disponibilizados.
20
2 NASCIMENTO E EVOLUÇÃO DA FILOSOFIA
Há vários séculos, a Filosofia tem se preocupado com os problemas que
envolvem o ser humano, com a natureza e tudo o que existe nela.
A Filosofia pode ser considerada a mãe de todas as ciências, pois a maioria
dos ramos do conhecimento deve suas reflexões iniciais aos filósofos.
A partir da Filosofia, a ciência impulsionou o ser humano na reorganização e
busca de entendimentos para os questionamentos verificados no campo das idéias.
Foram inúmeras tentativas, erros e acertos, a princípio empíricos, em seguida
organizados metodicamente – método científico – que parecia ser capaz de oferecer
todas as respostas.
Mas, com o passar do tempo foi se confirmando a necessidade de aceitar
pensamentos divergentes e interagir com a realidade. A razão do ser humano é
exercitada
exatamente
pela
inquietação
transformada
em
ferramentas
e
procedimentos capazes de visualizar profundamente o campo das hipóteses:
Em suma, a filosofia surge quando se descobriu que a verdade do
mundo e dos humanos não era algo secreto e misterioso, que
precisasse ser revelado por divindades a alguns escolhidos, mas
que, ao contrário, podia ser conhecida por todos, através da razão,
que é a mesma em todos; quando se descobriu que tal conhecimento
depende do uso correto da razão ou do pensamento e que, além de
a verdade poder ser conhecida por todos, podia, pelo mesmo motivo,
ser ensinada ou transmitida a todos (CHAUÍ, 2004, p. 20).
Conforme a história, a Filosofia nasceu na Grécia, numa região chamada
Jônia, na cidade de Mileto, por volta dos anos 600 a.C. O filósofo Tales foi seu
precursor e por isso considerado o Pai da Filosofia. Seu surgimento deve-se à busca
de explicações, de forma racional, sobre a origem e as causas do mundo e suas
transformações, bem como, da origem e as causas das ações humanas e do próprio
pensamento. Sendo assim, a filosofia é:
Entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico,
demonstrativo e sistemático da realidade natural e humana, da
origem e das causas da ordem do mundo e de suas transformações,
da origem e das causas das ações humanas e do próprio
pensamento, a filosofia é uma instituição cultural tipicamente grega
que, por razões históricas e políticas, veio a tornar-se, no correr dos
séculos, o modo de pensar e de se exprimir predominante da
chamada cultura européia ocidental da qual, em decorrência da
21
colonização européia das Américas, nós também fazemos parte –
ainda que de modo inferiorizado e colonizado (CHAUÍ, 2004, p. 26).
Filosofia é uma palavra de origem grega, cujo significado é: philos, que quer
dizer amizade, amor; e sofia, sabedoria, saber. Portanto, o filósofo é considerado
amigo da sabedoria, alguém preocupado e que vive em busca do conhecimento.
Pitágoras foi o filósofo que inventou a palavra filosofia. Ele afirmava que a
sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas os seres humanos podem
desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos, ou seja, o verdadeiro sábio é aquele que
ama e deseja ampliar cada vez mais seus conhecimentos e saber desvendar os
mistérios sobre o mundo onde vive:
Os filósofos gregos, observando as constantes transformações que
ocorrem na natureza, buscavam uma explicação racional para os
fenômenos naturais, explicação que não era satisfatoriamente
oferecida pelos mitos ou pelos deuses. [...] Os escritos desses
primeiros filósofos perderam-se quase que totalmente. Sobraram
apenas alguns fragmentos - pequenos trechos, pedaços de frases que chegaram até nós graças aos filósofos posteriores, como
Aristóteles, que comentaram o pensamento pré-socrático. Ainda
assim, esses fragmentos têm sido discutidos ao longo de toda a
história da filosofia, até a atualidade (CHALITA, p. 32, 2005).
Ao longo dos tempos, a Filosofia vem tendo importância fundamental na vida
das pessoas, em todos os aspectos, seja no entendimento da vida, na economia, no
trabalho, na religião, no lazer, enfim, tudo se utiliza dela, um pensar de ser humano,
sociedade e mundo.
O filósofo grego Platão afirmava que a primeira condição para tornar-se
filósofo é admirar-se com as coisas, afinal da admiração vem a capacidade de
problematizar. Kant, filósofo alemão, declarava que aprende-se apenas a filosofar e
não “filosofia”. Desta forma, identifica-se a Filosofia como uma escolha, um
conhecimento existente nas pessoas que fogem do conformismo instituído e buscam
mudanças, pois ela é a ciência dos princípios e valores gerais da existência, da
conduta e do destino do ser humano.
2.1 OS PRIMEIROS FILÓSOFOS
O primeiro filósofo foi Tales de Mileto (623-546 a.C.), ele concluiu que a água
é a substância primordial, a origem única de todas as coisas. Para ele, somente a
22
água permanece basicamente a mesma, em todas as transformações das coisas,
apesar de assumir três estados físicos: sólido, líquido e gasoso. Toda forma de vida
origina-se da água, para onde retorna quando tudo se dissolve.
Outro filósofo é Anaximandro (610- 547 a.C.), viveu na mesma época de
Tales. Acreditava não ser possível eleger uma única substância material como
princípio primordial de todos os seres. Ele achava que o mundo seria apenas um
entre uma infinidade de mundos que evoluiriam e se dissolveriam em algo que ele
chamou de ilimitado ou infinito. A substância que gera todas as coisas é algo
diferente das coisas criadas, uma vez que todas as coisas criadas são limitadas.
Anaxímenes (588-524 a.C.) admitia que a origem de todas as coisas é
indeterminada. No entanto não podia dar-lhe caráter oculto, que está fora dos limites
observáveis, ele pensava que a origem de todas as coisas é o ar. Ele acreditava que
água é ar condensado e o fogo ar rarefeito. Sendo por tanto o ar a origem da terra,
da água e do fogo.
Para Pitágoras (570-490 a.C.) o início de todas as coisas está nos números,
pois, eles representam a ordem e a harmonia. Todas as coisas têm uma essência
matemática, da qual derivam problemas como finito e infinito, par e ímpar, unidade e
multiplicidade, reta e curva, círculo e quadrado etc. Pitágoras diria que no fundo de
todas as coisas a diferença entre os seres consiste essencialmente em uma questão
de números (limite e ordem das coisas).
O filósofo Heráclito (540-480 a.C.), propunha que a matéria básica do
universo seria o fogo. Pensava também que a mudança constante, ou o fluxo seria a
característica mais elementar da natureza.
Anaxágoras (500-428 a.C.) foi um filósofo que não concordava que uma
determinada substancia básica – água, por exemplo – pudesse ser transformada em
tudo o que se via no mundo natural. Ele sustentava que a natureza se constituía de
um numero infinito de minúsculas partículas invisíveis aos olhos. Além do mais, tudo
poderia ser dividido em partes ainda menores, mas mesmo nas partes mais infinitas
haveria fragmento de todas as outras coisas.
Demócrito (460-370 a.C.), foi contemporâneo de Sócrates, mas tinha muito
mais em comum com os pré-socráticos na sua forma de pensar. Afirma que todas
coisas que existem são constituídas por partículas indivisíveis chamadas de átomos,
23
além deles somente o vácuo que representa a ausência de ser, devido a sua
existência, o movimento do ser acontece.
O período pré-socrático foi dominado pelas pesquisas relacionadas à
natureza, a busca de um princípio primordial para todas as coisas existentes.
Seguiu-se a este período uma nova fase filosófica, caracterizada pelo interesse no
próprio homem e nas relações do homem com a sociedade. Essa nova fase
filosófica foi dominada pelos sofistas e pelos filósofos clássicos, Sócrates, Platão e
Aristóteles.
2.2 CONCEPÇÕES FILOSÓFICAS DOS PENSADORES CLÁSSICOS
Os sofistas eram professores viajantes que vendiam ensinamentos práticos
de Filosofia. Sempre levando em consideração os interesses dos alunos pagantes,
davam aulas de eloqüência e de habilidade mental, ensinando conhecimentos úteis
para o sucesso nos negócios públicos e privados. Os principais representantes da
filosofia dos sofistas foram Protágoras de Abdera (485-410 a.C.), Górgias de
Leôncio (485-380 a.C.) e Hípias (século V a.C.).
Segundo Chalita, (2005, p. 46): “Para os sofistas, tudo devia ser avaliado
segundo os interesses do homem e de acordo com a forma como este vê a
realidade social. Isso significava que, segundo essa corrente de pensamento, as
regras morais, as posições políticas e os relacionamentos sociais deveriam ser
guiados conforme a conveniência individual”. Colocando o homem como medida
para todos as coisas, bem como, capaz de convencer a todos pela arte de persuadir
através da retórica e de discursos bem elaborados.
Nesse universo a sociedade grega foi evoluindo, surgindo então um dos
maiores filósofos da história: Sócrates. Nascido em Atenas (469-399 a.C.), ele foi,
provavelmente, a figura mais enigmática de toda a história da filosofia. Nunca
escreveu uma só palavra, e apesar disso foi um dos filósofos que mais influenciaram
o pensamento europeu:
Sabemos que Sócrates nasceu em Atenas e que ali passou toda a
sua vida [...]. Enquanto viveu já era visto como uma pessoa
enigmática e logo depois de sua morte foi considerado o fundador
das mais diversas correntes filosóficas. E justamente porque era tão
24
enigmático e porque o que dizia podia ser interpretado de diversas
formas é que correntes filosóficas tão diferentes puderam reivindicálo como o precursor de seus princípios. (GAARDEN, 1999), p. 79).
Sócrates utilizava dois métodos próprios para ensinar: a ironia e a maiêutica.
A ironia de Sócrates consistia em fazer perguntas aos seus interlocutores até que
estes não tinham mais respostas, percebendo assim sua ignorância, para logo após
introduzir a maiêutica.
Na segunda fase do diálogo, o objetivo de Sócrates era ajudar seus discípulos
a conceberem suas próprias idéias. Assim, transpunha para o campo da filosofia o
exemplo de sua mãe, que, sendo parteira, ajudava a trazer crianças ao mundo. Por
isso essa fase do diálogo socrático, destinada a concepção de idéias, era chamada
de maiêutica, termo grego que significa “arte de trazer a luz”.
Sócrates foi condenado a morte, mas deixou discípulos para continuar seu
legado, um deles é o também ateniense Platão (427-347 a. C). Ele era um
racionalista, via a razão como a única forma de se obter conhecimento. Acreditava
que o mundo onde vivemos é um mundo de cópias imperfeitas de um ideal perfeito
que se encontra no mundo das idéias. Platão também difundiu idéias referentes à
política, para ele, o Estado deveria ser governado pelos sábios, com equilíbrio e
temperança.
Nas palavras de Gabriel Chalita (2005, p. 55): “O ser humano, de acordo com
Platão, é composto de corpo e alma, sendo a alma a parte mais importante e mais
ideal do indivíduo. Ela seria imortal e eterna, existindo desde sempre no mesmo
plano do mundo das idéias. Desse lugar, ela viria para se encarnar num corpo,
constituindo então um homem.”
Platão afirma que o mundo material é uma passagem, na qual a alma evolui
vivendo uma experiência humana, para poder alcançar a perfeição e evoluir até o
ponto de atingirmos a classe dos sábios, e então chegarmos a classe mais evoluída
do poder e nos tornarmos sábios-reis. Ou seja, se evoluirmos espiritualmente,
também evoluímos na classe social entre os humanos.
Outro filósofo influente foi Aristóteles (384 - 322 a. C), foi um organizador, que
queria definir os conceitos formados pelo homem. Foi ele o fundador da Lógica. Ele
identificou várias normas que regulam o processo de se chegar a conclusões. Um
25
exemplo disso é que ao afirmar que todas as criaturas vivas são mortais, os animais
são criaturas vivas, portanto, os animais são mortais.
Segundo Aristóteles, apenas o homem viveria a vida completa da natureza,
pois, cresce se alimenta como as plantas, têm sentimentos e a capacidade de se
mover como os animais, mas também possui a capacidade de pensar
racionalmente, no entanto ele era um empirista, afirmava que nada chega a mente
humana sem antes passar pelos sentidos:
Sócrates se indispôs com os poderosos do seu tempo, que o
acusaram de não crer nos deuses da cidade e de corromper a
mocidade e por isso o condenaram a morte. [...] Platão (428-347
a.C.) viveu em Atenas, onde fundou uma escola denominada
Academia. [...], o mito da caverna é uma alegoria das principais
formas de conhecimento, a sensível e a intelectual: na teoria das
idéias, Platão distingue o mundo sensível, dos fenômenos, e o
mundo inteligível, das idéias. [...] Aristóteles “traz as idéias do céu à
terra”: rejeita o mundo das idéias de Platão, fundindo o mundo
sensível e o inteligível no conceito da substância (ARANHA, 2003, p.
121 a 123).
Num segundo momento antropológico e clássico (século V a.C), a Filosofia
vai produzindo uma nova identidade e tomando diferentes funções sociais. Atenas
desponta como cidade “pólis”, tendo uma nova organização e uma nova liderança
econômica e política independente. O homem muda seu espaço rural para urbano,
junto com essa mudança à filosofia aponta a nova natureza humana.
A convivência humana precisa ser fundamentada em um novo ideal de
educação democrático, afirmando a igualdade entre todos os homens (não era
considerado cidadão ateniense, os escravos, estrangeiros e mulheres), segundo,
Chauí (2004, p. 40): “para conseguir que sua opinião fosse aceita nas assembléias,
o cidadão precisava saber falar e ser capaz de persuadir, os demais. [...], a nova
educação estabelece como padrão ideal a formação do bom orador, isto é, aquele
que sabia falar em público e persuadir os outros na política”.
2.3 PERÍODO HELENÍSTICO
Considerado o último período da Filosofia Antiga (século III a. C a III d. C), foi
neste período que a Grécia deixou de ser o centro político e filosófico, passando a
pertencer ao grande Império Romano. Surgindo grandes sistemas e doutrinas
26
filosóficas, ou seja, explicações sobre a realidade vigente, envolvendo a natureza, o
ser humano e a divindade e a relação existente entre eles.
A palavra helenismo refere-se ao período de tempo decorrido entre o reinado
de Alexandre Magno e a ascensão de Roma, e à cultura predominantemente grega
que prevaleceu nos três reinos helenísticos da Macedônia, Síria e Egito.
O Helenismo caracterizou-se pela extinção das fronteiras entre vários países
e culturas. Antes, gregos, romanos, egípcios, babilônios, sírios e persas veneravam
seus próprios deuses, no contexto do que se chama de religião nacional. Essas
culturas se misturaram, juntando idéias religiosas, filosóficas e científicas:
Alexandre Magno era rei da Macedônia. Aristóteles também era
natural da Macedônia e por algum tempo chegou mesmo a ser
professor do jovem Alexandre. Foi Alexandre que conseguiu a
derradeira e decisiva vitória sobre os persas. [...], ele uniu o Egito a
todo o Oriente, até a Índia, à civilização grega. [...] Surgiu uma
comunidade internacional, na qual a cultura e a língua gregas
desempenhavam papel preponderante. Este período, que durou
cerca de trezentos anos, é freqüentemente chamado de helenismo.
Por helenismo entendemos a cultura predominantemente grega
vigente nos três grandes reinos Helênicos, a Macedônia, a Síria e o
Egito (GAARDEN, 1999, p.144)
A visão que os gregos tinham da vida passou a ser mais difundida do que na
Grécia antiga. Mas durante o período helenístico os deuses orientais e gregos
também eram venerados nos países do mediterrâneo. Novas formações religiosas
surgiam, trazendo consigo os deuses e os credos de muitas nações antigas, o que
podemos chamar de sincretismo ou fusão.
O fato de conter ensinamentos sobre como a humanidade poderia alcançar a
salvação da morte era uma característica comum da nova formação religiosa. A
filosofia também avançava cada vez mais na direção da salvação e da serenidade.
Pensava-se que, para além de seus valores intrínsecos, as percepções filosóficas
poderiam ser úteis para libertar a humanidade do pessimismo e do medo da morte.
Assim, as fronteiras entre religião e filosofia foram aos poucos sendo tornadas mais
indistintas.
Quando morreu (323 a.C.), Alexandre Magno deixou o maior império, que o
mundo já conhecera, ligando a civilização grega ao Egito e ao Oriente, chegando até
a Índia. As conquistas de Alexandre marcaram o início de uma nova época na
27
história da humanidade, dando origem a uma civilização na qual a cultura e a língua
grega tiveram um papel dominante.
O grande porto de Alexandria, no Egito, tornou-se o centro intelectual e
comercial do helenismo. Era uma sociedade próspera, que atraía estudiosos,
mercadores e artistas de várias outras nações. Enquanto Atenas, depois de Platão e
Aristóteles, era o centro da filosofia. Alexandria era o centro da ciência helenística.
Com bibliotecas e museus vastos, Alexandria liderava o desenvolvimento nas áreas
da matemática, astronomia, biologia e medicina.
Ocorre uma mistura cultural fomentando as reflexões, como se observa em
Gaarden (1999, p. 145): “[...] todas essas diferentes culturas foram misturadas num
caldeirão, por assim dizer, de concepções religiosas, filosóficas e científicas”.
Do século II a.C. em diante, Roma começou a conquistar os reinos
helenísticos e, por volta do final do século seguinte, a cultura romana e a língua
latina predominavam da Espanha, ao Egito e à Ásia Menor. O período romano
representou uma continuação e não uma ruptura da civilização helenística.
Roma tinha sido profundamente influenciada pela cultura grega, e os romanos
tinham um grande respeito pela arte, literatura e filosofia grega. Mesmo sendo o
latim a língua oficial, o grego continuava a ser a língua comum das províncias do
leste, e os romanos instruídos eram bilíngües.
Augusto, o primeiro imperador romano, trouxe paz, prosperidade e bom
governo a Roma. Desta época em diante, os romanos praticaram um culto imperial,
pelo qual decretavam aos imperadores supremacia política e religiosa e muitas
vezes os deusificavam após a morte. Nos séculos seguintes, o poder e o militarismo
romanos reinaram em todos os vastos territórios. Em meados do século III a.C., no
entanto, o império começou a desmoronar e se instalou uma consciência de
declínio.
Neste período, a sociedade romana tornou-se mais consciente do nascimento
do que parecia uma seita judaica. No entanto, apesar de perseguições ocasionais, o
Cristianismo se difundiu pelo império, e, por volta de 300 d.C., representava um
décimo da população. No século IV, o Cristianismo recebeu apoio do imperador
Constantino, e, de culto ilegal transformou-se em religião oficial do Império Romano.
28
Essa identificação entre Igreja e Estado representou um desdobramento de
profunda significação histórica, que, nos mil anos seguintes, influenciaria a
civilização ocidental.
Destacam-se quatro grandes sistemas que influenciaram o pensamento
cristão, que começou a formar-se nesta época: estoicismo, epicurismo, ceticismo e
neoplatonismo. Desta maneira o Império Romano se amplia cada vez mais, e as
religiões orientais, os contatos comerciais e culturais entre oriente e ocidente,
aproximou ainda mais os filósofos helenísticos com a sabedoria oriental. Entre os
principais filósofos helenísticos podemos destacar; Diógenes, Sêneca, Epicuro e
Plotino.
Da mesma forma, podemos destacar, nas palavras de Aranha (2005, p. 49):
“As filosofias epicuristas e, sobretudo, as estóicas (nas suas tendências ecléticas)
marcarão o pensamento romano nas figuras de Cícero, Sêneca, Epíteto e Marco
Aurélio”. Vale ressaltar mais uma citação que ilustra a descrição:
[...], a filosofia do helenismo continuou a investigar os problemas
levantados por Sócrates, Platão e Aristóteles. O ponto comum entre
eles era o desejo de responder às perguntas sobre qual seria a
melhor maneira de o homem viver e morrer. Assim, a ética também
foi colocada na ordem do dia e se transformou no mais importante
projeto filosófico da nova comunidade internacional. A questão era
saber em que consistia a verdadeira felicidade e como ela podia ser
alcançada (GAARDEN, 1999, p. 147).
Podemos comparar a cultura helênica com o mundo de hoje, marcada por
uma
comunidade
internacional
cada
vez
mais
aberta,
gerando
muitas
transformações culturais, religiosas e filosóficas, novamente com raízes no
pensamento clássico (Sócrates, Platão e Aristóteles), entre outros.
2.4 A FILOSOFIA NO PERÍODO MEDIEVAL
As idéias gregas foram se expandindo e influenciando o pensamento
europeu. Então o cristianismo foi fundado, cresceu e dominou toda a Idade Média,
período conhecido como os dez séculos de escuridão. A igreja passou a comandar
todos os setores da sociedade, não permitindo que se pensasse de outra forma que
29
não fosse a contida nos ensinamentos bíblicos, as portas estavam fechadas para a
filosofia.
Ao desenvolvimento da Igreja e a propagação do cristianismo foram os
grandes acontecimentos da Idade Média. O cristianismo aos poucos se espalhou por
toda Europa, chegando à Escandinávia no século XI:
Apesar dos tempos turbulentos, a herança cultural greco-latina é
resguardada nos mosteiros. Os monges são os únicos letrados num
mundo em que nem nobres nem servos sabem ler. Podemos então
compreender a influência que a Igreja exerce não só no controle da
educação, como na fundamentação dos princípios morais, políticos e
jurídicos na sociedade medieval. [...] No período final da Idade
Média, o embate entre os reis e o papa evidencia o ideal de
secularização do poder em oposição à política da Igreja, e anuncia a
formação das monarquias nacionais. (ARANHA, 2005, p.70/71).
Nessa expansão, absorveu muito dos costumes cristãos como a Páscoa e o
Natal. Aos poucos o cristianismo tornou-se uma filosofia de vida e para muitas
pessoas a vida não tem sentido quando não há uma religião.
A Igreja exerceu um controle sobre a educação, cultura, administração e lei, e
também uma forte influência na política, embora ao surgirem os Estados nacionais,
os governantes se dispunham a questionar a autoridade da Igreja. O líder do
cristianismo ocidental era o bispo de Roma, que recebeu o título de Papa e tornouse o representante de Cristo na Terra.
A idade média tem-se caracterizado por duas escolas: Patrística, com idéias
contrárias ao pensamento pagão, ou seja, em defesa da fé e a conversão dos nãocristãos. “A exposição da doutrina religiosa tenta harmonizar a fé e a razão, a fim de
compreender a natureza de Deus e da alma e os valores da vida moral”. De acordo
com Aranha (2005, p. 72), podemos ressaltar da mesma forma que: “A Patrística se
caracteriza pela intenção apologética, isto é, de defesa da fé e conversão dos nãocristãos”.
Desde que surgiu o Cristianismo, tornou-se necessário explicar seus
ensinamentos às autoridades romanas e ao povo. Mesmo com o estabelecimento e
a consolidação da Doutrina Cristã, a Igreja Católica sabia que esses preceitos não
podiam ser simplesmente impostos pela força. Eles tinham de ser apresentados de
maneira convincente, mediante um trabalho de conquista espiritual.
30
Foi assim que os primeiros Padres da Igreja se empenharam na elaboração
de inúmeros textos sobre a fé e a revelação cristãs. O conjunto desses textos ficou
conhecido como patrística, por terem sido escritos principalmente pelos grandes
Padres da Igreja.
Uma das principais correntes da filosofia patrística, inspirada na filosofia
greco-romana, tentou munir a fé de argumentos racionais. Esse projeto de
conciliação entre o Cristianismo e o pensamento pagão teve como principal
representante o Padre Agostinho.
A escolástica se baseia mais no campo teológico. A filosofia nessa época foi
clerical, dogmática, autoritária, conservadora e moralista. No final deste período
surge como classe a burguesia, sujeito histórico, um pensar humanista e o declínio
do feudalismo. Os principais representantes da filosofia medieval foram, Santo
Agostinho (354-430) e São Tomás de Aquino (1225-1274):
Com a queda do Império Romano, sob o impacto da invasão dos
povos vindos do Norte da Europa, a Igreja Católica assumiu a tarefa
de civilizar a educar esses povos, assimilando-os à cultura grecoromana. Foi nesse clima que se formou a escolástica, método
pedagógico por excelência, fundado na lógica aristotélica e que
serviu tanto como instrumento de educação quanto como veículo de
evangelização, cujo conteúdo era uma teologia vazada na filosofia
neoplatônica, cristianizada por santo Agostinho (SEVERINO, 2002, p.
59).
No século VIII, Carlos Magno começou a organizar o ensino em todo o seu
império fundando escolas ligadas a instituições católicas. A cultura greco-romana,
guardada nos mosteiros até então, voltou a ser divulgada, passando a ter influência
mais marcante nas reflexões da época.
Tendo a educação romana como modelo, começaram a ser ensinadas as
seguintes matérias: gramática, retórica, dialética, geometria, aritmética, astronomia e
música. Todas elas estavam, no entanto, submetidas a teologia, vemos nas palavras
de Aranha (2005, p. 75): “A idéia de um princípio divino ordenador do mundo é o
cerne do pensamento tomista” e ainda segundo Aranha: “Para Santo Tomás, a
educação é uma atividade que torna realidade aquilo que é potencial [...] A idéia de
atualização das potencialidades se sustenta também na teoria aristotélica da matéria
e da forma”.
31
A fundação dessas escolas e das primeiras universidades no século XI fez
surgir uma produção filosófico-teológica denominada escolástica (de escola). A partir
do século XIII, o aristotelismo penetrou de forma profunda no pensamento
escolástico, marcando-o definitivamente. Isso se deveu à descoberta de muitas
obras de Aristóteles, desconhecidas.
A busca de harmonização entre a fé cristã e razão manteve-se, no entanto,
como problema básico de especulação filosófica. Nesse sentido, pode-se dividir o
período escolástico em três fases: a primeira fase vai do século IX ao século XII, é
caracterizada pela confiança na perfeita harmonia entre fé e razão.
A segunda fase, do século XIII e início do século XIV, caracterizada pela
elaboração de grandes sistemas filosóficos, merecendo destaque as obras de
Tomás de Aquino, nesta fase considera-se que a harmonização entre a fé e a razão
pode ser apenas parcial.
E por fim, a terceira fase que vai do século XIV até o século XVI, é a
decadência
da
escolástica,
caracterizada
pela
afirmação
das
diferenças
fundamentais entre fé e razão.
2.5 A IDADE MODERNA
Na época chamada moderna, houve um novo projeto de sociedade, trazendo
consigo uma visão científica, crítica e antropocêntrica do universo, valorizando a
razão e os princípios da ciência, essa visão foi inspirada no racionalismo (confiança
extrema na razão), neste sentido:
[...] intrinsecamente vinculado ao individualismo, pois para competir e
crescer o indivíduo precisava, além de crer em si próprio, utilizar sua
capacidade de observar, refletir e discernir o melhor caminho para
alcançar seu objetivo, ou seja, colocar a razão como meio para
alcançar os fins (CHALITA, 2005, p.180).
Os pensadores modernos baseiam-se em experiências, na racionalidade e na
natureza. Destacamos, entre os pensadores desta época, Descartes “Penso, logo
existo” que enfatiza o pensamento que vigorou nesta época:
[...] pode-se dizer que o pensamento do século XVII caracterizou-se
fundamentalmente por ser metafísico e racionalista, enquanto no
século XVIII ele apresentaria uma tendência mais epistemológica -
32
isto é, de investigação sobre como as idéias se formam na mente
humana e como as pessoas podem obter conhecimento verdadeiro
das coisas – e empirista - ou seja, que enfatiza o papel da
experiência (metodologicamente orientada) no processo de formação
das idéias e do conhecimento (CHALITA, 2005, p. 252).
O empirismo foi a corrente filosófica que abriu espaço para a crítica ao
idealismo e ao racionalismo, despontando para o progresso tecnológico. Já o
movimento iluminista prega a superioridade da razão sobre tudo. Para organizar e
adquirir novos conhecimentos se apropria do mudo racional e empírico.
Em decorrência do iluminismo surge o movimento positivista que aplica às
ciências naturais e sociais para garantir os novos conhecimentos reais que rompem
princípios tidos como verdadeiros:
A Idade Moderna se caracterizou no plano filosófico-cultural por um
projeto iluminista: tudo o que se faz é feito com a convicção de que
as luzes da razão natural iluminam os homens, eliminando as trevas
da ignorância. Por meio dos conhecimentos obtidos racionalmente,
os homens não apenas se esclarecerão individualmente como ainda
poderão construir uma sociedade mais adequada e justa
(SEVERINO, 2002, p. 61).
Portanto, na idade moderna, o projeto novo da sociedade capitalista, a
burguesia traz uma visão científica, crítica, antropocêntrica e radical do universo, o
homem e sociedade. A valorização e a busca da razão das coisas são princípios da
ciência inspirada no racionalismo burguês, que tem seu controle econômico, político
e ideológico da sociedade.
No final do século XIV houve dois grandes acontecimentos, a Reforma e o
Renascimento e o homem passou novamente a ser centro do pensamento. Então o
conhecimento se expandiu de forma rápida tanto nas artes como nas ciências, na
astronomia, física e também nas descobertas marítimas. Surgiram neste período
nomes famosos como Galileu Galilei, Leonardo Da Vinci, Michelangelo, Maquiavel,
entre outros. Na filosofia as correntes filosóficas foram fortalecidas. Surgiram nomes
como Descartes, Pascal, Kant, Hobbes, Hume, Bacon, etc.
A sociedade moderna se desfruta do saber das ciências e da própria classe
burguesa em dirigir o novo momento histórico. As exigências do mundo moderno
vêm assumindo novos paradigmas, com padrões que justificam a dominação
camuflada ideologicamente. Fala-se em comunidades naturais, pacto social,
contrato social, avanços pela marcha da burguesia ao poder. Com o rompimento da
33
linha de pensamento medieval para o pensamento moderno sobrepõe ao aparato
ideológico positivista, ao empírico e ao prático.
2.6 A IDADE CONTEMPORÂNEA
A Filosofia contemporânea vai dos meados do século XIX até nossos dias e
que, por estar próxima de nós, é mais difícil de ser vista em sua generalidade, pois
os problemas e as diferentes respostas dadas a eles parecem impossibilitar uma
visão de conjunto.
Em outras palavras, não temos distância suficiente para perceber os traços
mais gerais e marcantes deste período da Filosofia. Apesar disso, é possível
assinalar quais têm sido as principais questões e os principais temas que
interessaram à Filosofia neste século e meio:
A filosofia contemporânea se faz compreender por um sentimento
anti-racionalista e até anti-cientificista com relação ao sistema
moderno. No mundo atual onde se erige a técnica e as ciências
empíricas racionais como proeminentes, a filosofia se torna o espaço
do Humanismo e do discurso crítico com relação aos abusos desta
própria ciência e racionalidade. Tem sido estes meios que a filosofia
contemporânea tem tentado compreender a complexidade da vida
Humana, social e pessoal (NUNES, 1996, p. 85).
O século XIX é, na Filosofia, o grande século da descoberta da História ou da
historicidade do homem, da sociedade, das ciências e das artes. É particularmente
com o filósofo alemão Hegel que se afirma que a História é o modo de ser da razão
e da verdade, o modo de ser dos seres humanos e que, portanto, somos seres
históricos.
Já no século passado, essa concepção levou à idéia de progresso, isto é, de
que os seres humanos, as sociedades, as ciências, as artes e as técnicas melhoram
com o passar do tempo, acumulam conhecimento e práticas, aperfeiçoando-se cada
vez mais, de modo que o presente é melhor e superior, se comparado ao passado, e
o futuro será melhor e superior, se comparado ao presente.
Essa visão otimista também foi desenvolvida na França pelo filósofo Augusto
Comte, que atribuía o progresso ao desenvolvimento das ciências positivas. Essas
ciências permitiriam aos seres humanos "saber para prever, prever para prover", de
34
modo que o desenvolvimento social se faria por aumento do conhecimento científico
e do controle científico da sociedade. É de Comte a idéia de "Ordem e Progresso",
que viria a fazer parte da bandeira do Brasil republicano.
Todo esse novo panorama de pensamento e de concepções vem agarrar
novos rumos despertados pela filosofia para atingir essas áreas da política, da
religião, da moral, ética, etc... É de fundamental importância a análise que se faça
dessa abertura para o mundo em desenvolvimento.
As contradições estão presentes entre o fazer (experiência) e o ideal de
igualdade, liberdade como força do poder dominante. A grande mudança do pensar
está no começo do século XIX, que está inserida na revolução do antropocentrismo
(renascimento) conforme a razão e a ciência, sem esquecer as contradições
históricas que tem sido produzida pelo homem:
O século XIX foi talvez o século mais fértil para a cultura filosófica,
uma vez que ciências e filosofia adquiriram sua autonomia plena e
grandes desdobramentos se dão em ambas as frentes. (...) Essa
fecundidade do conhecimento científico torna igualmente fecundo o
positivismo que vai inspirar várias vertentes filosóficas que
repercutiram no século XX: o evolucionismo, o pragmatismo, o
vitalismo e o cientificismo (SEVERINO, 2002, p. 63).
A Filosofia Contemporânea produziu a partir da metade do século passado a
velocidade, a partir das revoluções burguesas, por apresentar novas perspectivas
sobre o homem, a vida humana, o tempo, o espaço. Neste momento abre espaço
para novas críticas, novas transformações:
No século XIX, entusiasmada com as ciências e as técnicas, bem
como, a Segunda Revolução Industrial, a filosofia afirmava a
confiança plena e total no saber científico e na tecnologia para
dominar e controlar a natureza, a sociedade e os indivíduos (CHAUÍ,
1994, p. 49).
A sociedade tecnológica, hoje se serviu da filosofia para induzir à mentalidade
consumista, utilitária - ligada a mentalidade pragmática e positivista - isolando os
paradigmas do homem. É na filosofia que encontramos a realização do homem,
enquanto fornecedora de valores e do pensar como instrumentalização do
entendimento do universo. É ela que deve dar sentido à vida humana, segundo
afirma Nunes (1996, p. 96): “E o Homem só se realiza no outro, pelo outro e com o
outro... mais ainda, no outro superior”.
35
A disciplina de Filosofia deve procurar abranger uma compreensão profunda,
da utilidade de cada momento histórico e de progresso. Situa-se no todo, sem
limites, sem fronteiras, sem barreiras e baseada nas demais ciências contribuindo
para as mudanças que são vitais para o ser humano historicamente construído e em
construção.
A Filosofia tem por pretensão dar ao homem uma consciência crítica de seu
tempo e sem compromisso pessoal e social. Entendida como dialética, dinâmica e
compreensiva da realidade, que privilegia a vida acima de qualquer princípio que
fere a integridade física e moral do ser humano.
Acredito que a partir dessa breve contextualização é possível compreender
um pouco mais as discussões travadas na regularização da disciplina de filosofia
como parte integrante do currículo oficial.
A parte a seguir tem a pretensão de oferecer um referencial mínimo acerca da
legislação envolvendo a filosofia no Brasil. Os pressupostos expostos nos
Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, são trazidos para contribuir na
compreensão desse processo. Da mesma forma volta-se o olhar para Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Brasileira – LDB. Também a legislação catarinense
será brevemente analisada, bem como, o tratamento dispensado à Filosofia na
Proposta Curricular de Santa Catarina.
2.7 A FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
A educação no Brasil sempre teve uma forte influência religiosa. No início os
Jesuítas se encarregaram de assumir as funções do Estado, aliado a este,
oferecendo as únicas opções de educação no Brasil.
A primeira experiência pedagógica em terras brasileiras, no sentido formal,
como educação escolar, ocorreu no Período Colonial sob a influência portuguesa,
reproduzindo-se aqui o modelo educacional aplicado na metrópole, que se baseava
na pedagogia da Companhia de Jesus, ordem religiosa da Igreja católica, também
denominada de jesuítas (ALVES, 2002).
36
Inclusive a Igreja Católica organiza a Companhia de Jesus, com fins
educacionais, voltado para a catequese, especialmente nas colônias:
Fundada em 1534, pelo antigo militar espanhol Inácio de Loyola,
tinha um regime de trabalho organizado segundo moldes militares;
foram os jesuítas os responsáveis pela instrução e pela catequese
dos povos das colônias, além de lutarem contra os abusos nos
mosteiros, procurando fortalecer a Igreja Católica contra os heréticos
e infiéis (CARTOLANO, 1985, p. 20). A hegemonia da Companhia de
Jesus no campo educacional persiste até a reforma empreendida
pelo marquês de Pombal, conhecida como reforma Pombalina, já sob
a influência do ideário iluminista, ocasião em que os jesuítas são
expulsos de Portugal e, conseqüentemente, também das suas
colônias, em 1759. Nesse período, a metrópole portuguesa
procurava adaptar-se, econômica, política e ideologicamente, às
“mudanças estruturais” que se intensificavam na Europa, resultantes
da hegemonia que o ideário liberal assumia sobre a aristocracia
feudal, esta em franca decadência. Aliado a isso, está a profunda
subordinação econômica de Portugal à Inglaterra, devido a
sucessivos acordos entre os dois países (ALVES, 2002, p.12).
Ao refletir sobre o estado atual da Filosofia na educação brasileira exige que
conheçamos um pouco da história da presença/ausência da Filosofia como
disciplina.
Desde o Século XVI, com a colonização portuguesa no Brasil, a educação
iniciou com a cultura portuguesa e princípios da Companhia de Jesus de cunho
religioso e erudito. O período colonial (1500 – 1508), sede do Reino Unido do Brasil,
Portugal e Algarves (1808 – 1822); período imperial (1822 – 1889) sem mudanças
significativas na educação e período republicano (a partir de 1889), com reformas na
educação brasileira, sendo a primeira grande reforma procurando substituir o erudito
pelo científico. Já no período do Estado Novo (ditatorial) (1937 – 1945), houve um
processo de nacionalização do ensino, sendo o momento de afirmação da educação
pública no Brasil.
Nesse momento histórico foi reduzido o incentivo às iniciativas educacionais
dos imigrantes. Também nesse período se instituiu a obrigatoriedade do ensino da
língua portuguesa, era a forma do Estado brasileiro impor um dos identificadores da
Nação brasileira. Ocorre ainda a ampliação da oferta educacional nas zonas rurais,
com a idéia expansionista da educação, procurando atender a todos.
Passado esse momento ditatorial comandado por governos militares (1964 –
1985) com uma educação tecnicista, priorizando as técnicas educacionais,
profissionalização do Ensino Médio voltados aos princípios ideológicos aprovados
37
pelo governo e grupos econômicos dominantes. Não houve discussão filosófica e
também esteve ausente qualquer iniciativa de implantar a Filosofia como disciplina.
A partir de 1985, com a redemocratização do ensino, houve um despertar de
uma discussão aberta introduzindo mudanças no meio social e educacional
(PROPOSTA CURRICULAR, SC, 1998).
Corrobora nessa informação a descrição de Alves:
[...] a questão da presença/ausência da filosofia na “educação básica
neste país não é coisa de agora e nem é coisa de uns tantos
professores desempregados e queixosos do fechamento do seu
posto de trabalho. [...] Voltar-se para a história da filosofia na
educação escolar brasileira torna-se, assim, imprescindível para que
vejamos, nos vários modelos educacionais implementados no Brasil,
qual deles contemplou a filosofia no currículo. E mais ainda: qual
filosofia foi contemplada? Em que sentido a filosofia esteve presente
ou ausente do currículo? Por quê? [...], poderemos vislumbrar com
clareza as implicações das atuais medidas para a filosofia e o caráter
de sua presença ou ausência no “novo ensino médio”(ALVES, 2002,
p. 08).
Segundo Luckesi (1995), Silvio Romero foi o primeiro filósofo do Brasil a
publicar seu primeiro livro em 1878, uma obra denominada “Filosofia no Brasil:
ensaio crítico”. Depois de Romero, outros autores vêm tratando essa temática e
emitindo opiniões sobre se houve no passado ou se existe no presente, um exercício
filosófico desenvolvido no Brasil:
No seu inventário, Silvio Romero, chega à conclusão de que a
segunda metade do século passado praticamente não se tinha
realizado em nosso país uma produção de conhecimentos filosóficos.
Ele mesmo considerava que o titulo do seu ensaio poderia provocar
riscos de zombaria em alguns autores. Considerando o passado (no
caso, período anterior a 1878), [...] até aquele momento, a filosofia
não fazia parte propriamente da experiência intelectual. [...] nos três
primeiras séculos que nos precederam, nem um só livro dedicado às
investigações filosóficas saiu da pena de um brasileiro. [...], não era
gratuito o fato de o Brasil só vir a se dedicar ao pensamento filosófico
tardiamente, no século XIX. Segundo ele, o pensamento filosófico
europeu não fora assimilado em Portugal e o Brasil sofreu do mesmo
processo, através da colonização portuguesa (LUCKESI, 1995, p.
247 a 249).
A Lei nº 4.024 de 1961 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
introduziu a descentralização do ensino, permitindo às escolas a opção entre vários
currículos. A filosofia aparece como disciplina optativa. Alves (2002, p. 34), diz que
“se neste período a situação da filosofia na escola secundária nacional caracterizou-
38
se por uma presença indefinida no currículo, no próximo período (1964-1982),
decide-se por sua retirada ‘total’ dos currículos das escolas públicas da União.”
Como não havia definição efetiva do oferecimento da disciplina de Filosofia,
na maior parte dos municípios e estados, não foi oferecida. Os motivos são os mais
diversos, mas muitos governantes tinham motivação ideológica, já que a Filosofia,
na visão deles, ameaçava seu poder.
Outros, sem esta preocupação não perceberam a importância da Filosofia na
formação da personalidade dos estudantes, cidadãos e futuros profissionais. Na
verdade pode-se divagar por inúmeras teses sobre os motivos de não ser oferecida
a disciplina nas unidades escolares, quando da vigência da Lei 4.024 de 1961, mas
o fato é que um tempo precioso da necessária reflexão foi desperdiçado.
A lei 4.024 que servia de base para a educação nacional não especificava a
possibilidade ou não de oferecimento da disciplina, é verdade que proibido não era,
já que a lei admitia a flexibilidade de currículos: “Art. 44. O ensino secundário admite
variedade de currículos, segundo as matérias optativas que forem preferidas pelos
estabelecimentos”. No entanto, isso não era suficiente para que a Filosofia pudesse
ser introduzida nas escolas, pois as condições políticas eram adversas.
A disciplina de Filosofia foi retirada definitivamente do currículo do Ensino
Médio na década de 1970 com a entrada em vigor da Lei nº 5692/71, que
caracterizava a educação pela valorização da técnica, visando a profissionalização.
O tecnicismo representou um retrocesso na implementação da Filosofia na
escola, pois o Regime de exceção, patrocinado pelos militares e a elite brasileira
entendia que uma disciplina destinada à análise e reflexão de fatos concretos,
envolvendo aspectos éticos, poderiam fomentar uma postura popular crítica ao
autoritarismo praticado pelo regime em vigor. É importante lembrar que o governo
implantou a ditadura também na definição do currículo, como se observa na Lei
5692/71:
Art. 4º Os currículos do ensino de 1º e 2º graus terão um núcleo
comum obrigatório em âmbito nacional, e uma parte diversificada
rara atender, conforme as necessidades e possibilidades concretas,
às peculiaridades locais aos planos dos estabelecimentos e às
diferenças individuais dos alunos.
A falta de autonomia das escolas e mesmo das redes estaduais também está
estampada no parágrafo 4° deste mesmo artigo da 569 2/71:
39
§ 4º Mediante aprovação do Conselho Federal de Educação, os
estabelecimentos de ensino poderão oferecer outras habilitações
profissionais para as quais não haja mínimos de currículo
previamente estabelecidos por aquele órgão, assegurada a validade
nacional dos respectivos estudos.
Com o esgotamento do modelo de gestão escolar da ditadura militar e do
próprio regime, aos poucos a legislação vai perdendo força e muitas escolas se
rebelam, iniciando discussões sobre a necessidade de implantar nas escolas a
disciplina de Filosofia.
Mesmo com a movimentação pela reintrodução da disciplina nas escolas,
esse movimento não conquistou o sucesso esperado. Um dos problemas é que nas
instituições formadoras não era possível cumprir o papel de promover a reflexão,
pois não havia liberdade de expressão dos professores e os conteúdos eram
determinados
pelo
regime,
impossibilitando
que
os
currículos
tivessem
características democráticas e humanistas.
Todas as tentativas de burlar esta situação eram reprimidas com rapidez e
violência pelo regime militar e seus ilustres e fiéis representantes nas unidades
escolares, o que inviabilizava qualquer processo reflexivo.
As disciplinas das ciências humanas, mais especificamente, a Filosofia e a
Sociologia tornavam-se obsoletas e inúteis. Afastando desta maneira, o indivíduo
dos problemas políticos e econômicos, preocupando-se apenas com sua formação
profissional. Pensava-se que a Filosofia contrariava o poder autoritário instalado em
1964, sendo assim, a Filosofia teria o poder de mexer com a estrutura política do
país:
Após a promulgação da Lei n. 5.692/71, que implicou a retirada da
filosofia do currículo do ensino secundário, surgiram vários movimentos
de protesto contra essa situação, reivindicando a reintrodução da
filosofia no currículo. O ano de 1975 é tido como o marco inicial desses
movimentos, quando a partir de um encontro realizado no Rio de
Janeiro com a presença de filósofos de vários estados, foi fundado o
Centro de Atividades Filosóficas, transformado mais tarde na Sociedade
de Estudos e Atividades Filosóficas (SEAF), que conferiu um caráter
mais articulado a esses movimentos. [...] A SEAF nasceu devido à
necessidade de se criar um espaço alternativo para a discussão de
idéias, compartilhar estudos, reflexões etc., inviabilizado nos cursos e
departamentos de filosofia das universidades, por causa da “vigilância”
imposta pelo regime militar (ALVES, 2002, p.42).
Após o período militar a disciplina de Filosofia começa retomar o espaço nas
escolas, e em especial na própria filosofia de vida das pessoas. No entanto, há um
40
“vácuo” na disponibilidade de profissionais para assegurar o cumprimento dos
desafios da Filosofia, como já mencionado, isso decorre da prática do regime militar
impondo a repressão a livre manifestação do pensamento.
Mesmo com todas essas dificuldades, percebe-se que, atualmente, há um
crescimento do interesse pela disciplina e a percepção da importância estratégica
que ela desempenha na formação do indivíduo, como a criatividade, a qualidade e a
reflexão sobre a mesma é de vital importância para as questões sociais,
econômicas, culturais, educacionais, religiosas, políticas e em todos os campos do
pensar humano. Ressalva-se aqui a postura da classe hegemônica e mesmo de
setores populares, contraria a esta proporção por acreditar que isso provoca
instabilidade social, provocando situações desarmônicas, refutadas nesses meios.
Com o fim da ditadura, muitas propostas foram formatadas, mas nenhuma
havia obtido sucesso. Em 2001, quando chegou às mãos do presidente, o sociólogo
Fernando Henrique Cardoso, foi vetada sob a alegação de que não havia
profissionais para lecionar as disciplinas nas escolas do país. Também pelo fato da
Filosofia fazer parte dos temas transversais, ou seja, já faziam parte de todas as
outras disciplinas, desta forma, não havia necessidade de formalizá-la como
disciplina.
Para Callegari, no entanto, esse argumento não sustenta a recusa à medida
e, acrescenta, o Ensino Superior terá papel relevante neste momento de adaptação,
já que nas demais áreas e disciplinas também faltam profissionais e não são
extintas:
Existem problemas, é claro. Há a questão da falta de professores.
Mas a carência numérica e de qualidade não é algo exclusivo da
Sociologia e da Filosofia. Faltam 180 mil professores de Química,
Física e Biologia, mas ninguém discute se elas são ou não
disciplinas necessárias", compara. Segundo César Callegari: “[...] a
decisão irá estimular os estudantes a desenvolverem seu espírito
crítico (FILOSOFIA, CIÊNCIA & VIDA - nº 7, 2007, p. 24 - 33).
É importante lembrar que mesmo no auge do regime militar a Filosofia não
perdeu seu papel reflexivo, mas contribuiu para manter viva a esperança de muitos
pela democracia e potencialização dos ideais da liberdade. Não seria motivo
justificável alegar a falta de profissionais, como fez o então Presidente da República
Fernando Henrique Cardoso, pois repetiria o erro do passado de impedir o início do
processo de formação de indivíduos pré-disposto à reflexão.
41
A Lei 9394/96, atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação, assegurou a
implementação da disciplina nas unidades escolares. A Lei n° 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, estabelece:
Art. 26 Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma
base nacional comum a ser complementada, em cada sistema de
ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada,
exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da
cultura, da economia e da clientela.
§ 1° os currículos a que se refere o caput devem abranger,
obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da matemática, o
conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e
política, especialmente do Brasil.
A Lei foi aprovada finalmente, mesmo diante das dúvidas, é comemorada,
pela maioria dos docentes. No dia 7 de julho de 2006, quando o Conselho Nacional
de Educação decidiu, aprovar por unanimidade, a obrigatoriedade da Disciplina de
Filosofia nas escolas de Ensino Médio. De forma mais direta a Lei n° 9.394,
estabelece de forma transparente a opção pelo oferecimento da Filosofia na
Educação básica:
Art. 36 O currículo do ensino médio observará o disposto na Seção I
deste Capítulo e as seguintes diretrizes: [...]
§ 1 Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação serão
organizados de tal forma que ao final do ensino médio o educando
demonstre:
I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a
produção moderna;
II - conhecimento das formas contemporâneas de linguagem;
III - domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia
necessários ao exercício da cidadania.
Com essa possibilidade aumenta a possibilidade de sucesso da introdução
definitiva da disciplina de Filosofia, não apenas como formalidade. O que se
pretende é que se torne uma alternativa de reflexão de temas contemporâneos, de
grande relevância social, como tratam os Parâmetros Curriculares Nacionais:
Ao criar mais espaço para as ciências humanas no currículo do
ensino médio, a atual legislação volta a reconhecer oficialmente a
importância da educação humanista na formação dos educadores
desse nível de ensino, alterando o disposto na lei n. 5.692/71, que
privilegiava um currículo centrado nos conhecimentos tecnológicos e
nas ciências naturais em detrimento da área de ciências humanas,
que teve seu espaço reduzido no currículo. [...] Nesse texto justificase a inclusão da filosofia no ensino médio com base na necessidade
que as sociedades tecnológicas e o próprio sistema produtivo têm de
que o indivíduo seja criativo, com iniciativa própria e capaz de
42
adaptar-se a situações novas etc., [...] Isto proporcionou as
condições históricas que permitiram à “nova educação brasileira”
colocar a filosofia e as ciências humanas novamente em destaque no
cenário educacional atual (BRASIL, SEMTEC, 1999 b, p. 88). Nos
arts. 35 e 36 da lei n. 9.394/96, que estabelecem as finalidades e as
diretrizes curriculares do ensino médio (ALVES, 2002, P. 96).
Em Santa Catarina a Lei 170/88, que trata do Sistema Estadual de Educação,
estabelece a introdução da disciplina de Filosofia na rede pública de Santa Catarina,
de forma explicita:
Art. 41 O currículo do ensino médio destacará a educação
tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, das
letras e das artes, das ciências humanas, do processo histórico das
transformações sociais e culturais, das conquistas da humanidade,
da história brasileira anterior e posterior à chegada dos colonizadores
e da língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso
ao conhecimento e exercício da cidadania.
A determinação na lei estadual não foi suficiente para garantir sua
universalização na rede catarinense, foi necessária a edição de uma nova lei que
torna obrigatória a reintrodução da mesma, trata-se da Lei Complementar nº 173, de
21 de dezembro de 1998, que dá nova redação ao parágrafo único do artigo 41, da
Lei nº170/98, que dispõe sobre o Sistema Estadual de Educação:
Art. 1º O parágrafo único, do artigo 41, da Lei Complementar nº 170,
de 07 de agosto de 1998, passa a vigorar com a seguinte redação:
"Art. 41 [...]
Parágrafo único. A filosofia e a sociologia constituirão disciplina
obrigatória do currículo do ensino médio."
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Santa Catarina foi um dos primeiros estados brasileiros a regulamentar e
implementar o seu Sistema Estadual de Ensino, tendo como referência a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, do ano de 1996.
No capítulo seguinte será possível aprofundar as relações estabelecidas
neste contexto, envolvendo a escola os estudantes e Filosofia como ciência capaz
de contribuir na interação desse processo de relacionar os assuntos e problemas
importantes nas reflexões filosóficas, a partir de sua efetivação nas escolas, como
disciplina curricular.
43
3 RELAÇÃO DA FILOSOFIA COM OUTRAS ÁREAS DO CONHECIMENTO
Ao exercitar a reflexão e estimular o desenvolvimento de sua própria
inteligência, o ser humano pode estar filosofando - pensando constantemente - e
agindo conforme seus pensamentos. Essa condição lhe permite dar sua colaboração
à evolução humana, a começar pelo próprio meio onde está inserido.
A mudança de postura diante de explicações passadas é o fundamento do ato
de filosofar. Acompanhar as alterações de tudo que está em volta de si mesmo é a
principal causa da necessidade de mudança de pensamento, a fim de melhor se
posicionar na vida, descobrindo, enfim, sua razão de ser.
Durante toda a sua trajetória a Filosofia se apresentou como uma ciência que
se preocupa com o conhecimento racional, lógico e sistemático sobre realidades. É
uma ciência, e como tal pode ser considerada a mãe de todas as outras. Muitos
filósofos da antiguidade foram precursores de reflexões sobre temáticas de diversas
áreas.
O processo de conhecimento consiste em buscar a verdade e essa está em
nós. Sócrates como fundamento para a educação e para o conhecimento afirma
que: “O papel do educador, do filósofo é o de trazer à luz estas idéias, semelhança a
uma ‘parteira’.” Por sua vez elogia a virtude humana cuja sabedoria consiste no
reconhecimento dos limites do próprio saber: “Sei que nada sei.”
Aristóteles dá importância fundamental a sistematização do conhecimento, da
estrutura lógica, da explicação causal e da divisão da ciência em três níveis:
teorética, prática e produtiva.
Com a decadência do mundo grego, período clássico em crise, surge um
terceiro período: a cristandade, a partir do século V. Um novo cenário, num mundo
no qual a Igreja organizava tudo e produzia um mundo imaginário para lhe garantir o
real domínio, tanto ideológico quanto político. Era a “Boa Nova”, que tinha atração
nas massas mais pobres (“não gente”), visto pela ideologia dominante, na pretensa
superioridade Romana. A Igreja pregava a igualdade a todos os homens, a
salvação, a ressurreição a todos, uma nova vida a todos e a divisão dos bens em
comum.
44
Os conhecimentos multiplicaram-se e uma avalanche de informações estão
deixando a sociedade refém de sua impotência em resolver problemas, ainda
básicos, para sua sobrevivência. Há um caminho de incertezas nos caminhos da
humanidade, ensina nessa direção Edgar Morin (2002, p. 35): “Como o futuro é
absolutamente incerto, é preciso pensar com e na incerteza, mas não a incerteza
absoluta, porque sempre navegamos num oceano de incerteza por meio de
arquipélagos de certezas locais”.
A Filosofia tem um papel estratégico na sociedade contemporânea, qual seja
de “interrogar a condição humana”, como e por que ainda estamos em determinada
situação. A formação do educador/educando de Filosofia – mesmo reconhecendo
que é uma responsabilidade de todos – não deve estar unicamente balizada em
conceitos de um ou outro filósofo, sua data de nascimento, a cidade em que vivia,
mas sim das suas idéias e concepções.
Contribui no reforço a este pensamento Morin:
É totalmente deplorável que o mundo das Humanidades,
principalmente o da Filosofia, esteja geralmente fechado às ciências,
e, inversamente, que o mundo das ciências esteja fechado à
Filosofia. Poderemos fornecer aos filósofos a possibilidade de
ensinar o espírito reflexivo e, simultaneamente, conhecer as
aquisições das ciências, dispersando-as em jornadas temáticas, nas
quais todos os domínios estariam presentes e isso porque as
questões filosóficas serão sempre postuladas: O que é o mundo?
Quem somos nós no mundo? (MORIN, 2002, p. 36).
Isso deve acontecer como um processo que contemple os aspectos em que a
sociedade contemporânea precisa refletir, a partir das quais suas perguntas tenham
uma resposta plausível. São inúmeras as contribuições que acenam com
possibilidades de melhorias:
E se hoje temos condições de discutir melhor com os alunos de II
grau sobre temáticas, tanto específicas da história da filosofia,
quanto dos problemas sociais de modo geral, se deve, em princípio,
à organização e atividades da SEAF1. Este foi, de fato, seu grande
mérito. [...], além das suas atividades, os membros da SEAF
participaram de importantes eventos, tais como as reuniões anuais
da SBPC2 e, durante muitos anos, participou de inúmeros debates,
mesas-redondas e simpósios sobre as questões específicas da
filosofia, além das problemáticas gerais da sociedade brasileira
(CARMINATI, 1997:140).
1
2
SEAF - Sociedade de Estudos e Atividades Filosóficas.
SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.
45
O conhecimento das ciências e as tecnologias nelas envolvidas, como um
todo, deve transcender aspectos apenas de disciplina, o professor de Filosofia deve
anteceder fatos que a história por seus desígnios possa gerar. As instituições
universitárias que formam os docentes de filosofia devem repensar pressupostos,
considerados básicos dessa formação.
Uma importante contribuição nesse sentido vem de Morin:
Cito-lhes a frase de um filósofo cujo nome não será aqui referido: “é
preciso que o corpo docente se coloque nos postos mais avançados
do perigo que constitui a incerteza permanente do mundo”. Isso
somente tem sentido com a discussão da mudança cultural. Uma
alternativa é a superação do individualismo cedendo espaço e
fomentando uma cultura capaz de garantir essa concepção coletiva.
(MORIN, 2002, p. 35).
Isso somente tem sentido com a discussão da mudança cultural que aponte
alternativas, como sugere Morin (2002, p. 36): “Este saber que abraça deve
ressuscitar uma cultura que não é pura e cópia da antiga cultura, mas sim sua
integração em conexão com a cultura das Humanidades e a cultura das Ciências.”
A cultura coletiva de idéias que é um processo de intelectualizão, assimilação
de relação temporal, deve levar o professor a indagar a crise do pensar. O professor
precisa ser convencido à contribuir, superar essa suposta “crise”. Morin (2002, p. 36)
cita Platão para ressaltar o importante papel do professor e a necessidade do seu
comprometimento: “Para ser um educador, é preciso ter eros, isto é, ter amor.”
Uma alternativa é a superação do individualismo, cedendo espaço e
fomentando uma cultura capaz de garantir essa concepção coletiva. Arriscando uma
sugestão, acredito que pode se concretizar com o aprofundamento das reflexões
que envolvem a ética, a cidadania e a solidariedade.
Isso não é tarefa exclusiva de educadores ou da escola, mas precisa ser
assumido também pelas autoridades. Provavelmente foi considerando esta situação
que ao elaborar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira seus mentores
contemplaram essa condição:
Segundo prescreve a lei n. 9.394/96, em seu art. 36 § 1º, inciso III ao
final do ensino médio o educando deve demonstrar, dentre outras
coisas, “domínio dos conhecimentos de filosofia e de sociologia
necessários ao exercício da cidadania”. Se “os conhecimentos de
filosofia” são “necessários ao exercício da cidadania”, como indica a
lei supracitada, então, a filosofia está com seu lugar garantido no
currículo do ensino médio? À primeira vista parece que sim, mas, à
46
medida que paramos para pensar nisto, percebemos que a coisa não
é bem assim. [...] a lei é muito genérica, vaga e imprecisa quanto à
presença da filosofia nesse nível de ensino. [...] Em nenhum
momento se diz que a filosofia deve ser uma disciplina do currículo,
por exemplo. (ALVES, 2002, p. 69).
Há um sentimento difuso, a princípio na legislação, de que a Filosofia seria de
caráter transdisciplinar, sendo parte de todas as disciplinas, no entanto, prevaleceu
a intenção de transformá-la em disciplina curricular. Resta então à universidade
assegurar a formação de profissionais para nela atuar e também deve preocupar-se
com a qualidade do ensino, não apenas acadêmico, mas também no Ensino Médio,
o qual abrigará os profissionais preparados na academia.
Nota-se que da relação das Universidades com o ensino médio, pela
formação acadêmica de docentes há uma substancial melhoria no ensino médio,
com destaque para a área das ciências humanas sendo protagonizada pela
Filosofia. Isso pode ser um sinalizador de que mudar os conhecimentos acarretaria
uma restauração nos pilares básicos do ensino médio, que no Brasil em particular é
considerado de má qualidade, principalmente, no seu desígnio público.
Abandonar o pressuposto da transdisciplinaridade da Filosofia para uma
opção disciplinar, como ocorreu no Brasil, precisa ter a preocupação de assegurar a
qualidade do ensino especialmente das reflexões inerentes a própria Filosofia.
Carminati (2003, p. 100), reflete sobre a necessidade de pensar o programa
da disciplina de Filosofia: “E neste sentido, perguntamos: de que maneira é possível
repensar novas relações entre a universidade e as escolas de ensino médio a partir
dos cursos de formação inicial dos professores de Filosofia?”
Ainda nas palavras de reflexão acerca das relações da Filosofia na escola,
entre as disciplinas e professores em sua prática educativa/reflexiva:
De que maneira os programas das disciplinas podem ser
flexibilizados pelo professor para que se interconectem com os de
outras disciplinas? Dizendo de um modo, é possível realizar este
movimento sem atribuir à Filosofia uma perda da sua especificidade?
É possível estabelecer conexões enquanto tentativa de explicar os
diversos nexos existentes entre os conhecimentos de uma mesma
área para compreender uma realidade um objeto de formas
distintas? O professor está sendo preparado para isso? Possível
fazer com que o ensino seja uma alternativa à fragmentação dos
saberes e, dessa forma, contribuir enquanto componente individual
na construção de uma visão mais integral do currículo?
(CARMINATI, 2003, p. 100 e 101).
47
Talvez os conhecimentos não necessariamente devam ser mudados, mas sim
flexibilizados, assim proporcionando melhores condições de serem ministrados. O
professor de Filosofia tanto quanto sua formação, quanto a postura diante de
vanguardas educacionais, da qualidade do ensino, da reflexão inerente à disciplina.
É importante pressupor a mudança dos temas e forma do pensar não como
algo negativo, mas como uma articulação crítica que vem se fortalecendo no meio
social, e que transformará a humanidade em uma construção histórica onde toda a
coletividade será sujeito dessa rearticulação imprescindível. Essa rearticulação deve
contemplar a reflexão não apenas de conteúdos escolares/curriculares, mas atingir
aspectos éticos e sociais, contextualizando o debate e as reflexões filosóficas.
É preciso ter sempre presente a discussão da Filosofia não apenas como
disciplina, mas também como instrumento de integração na discussão dos aspectos
éticos e sociais da atualidade, na relação professor x aluno x escola, não somente
aqui, mas em todo o contexto social de convivência, de trabalho, desemprego,
político, sustentabilidade, ambiental, solidariedade e outros.
Essa relação ainda carece de aprendizado no Brasil, pelas circunstâncias que
dificultaram sua popularização e difusão nas escolas e, por conseqüência
impregnando as relações sociais de reflexões contextualizadas e estratégias para o
melhor desenvolvimento humano e social, até aqui carentes em reflexões filosóficas.
3.1 FILOSOFIA: RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO X ESCOLA
Repensar a formação do aluno e do professor requer a valorização da ação
pedagógica, permitindo a construção de espaços na escola. Esses não podem ser
meros espaços, mas referencias para analisar, atuar e refletir, bem como provocar o
desenvolvimento de capacidade e competência implícitas no conhecimento, na
ação, na reflexão sobre a ação-reflexão e vice-versa.
Um imensurável desafio é promover o preparo de professores conscientes da
importância da reflexão filosófica. No entanto, isso não pode ficar na tomada de
consciências, que tomada e retomada de suas práticas como situações a serem
estudas e refletidas com os alunos e o conjunto dos membros da escola. Essa
48
reflexão deve ser de forma partilhada e democrática, com uma visão crítica,
instituindo novas relações entre o conhecimento pedagógico e o conhecimento
científico.
Esse processo não pode ser apenas de profissionais da Filosofia, mesmo
com novas formas de atuar, pensar e agir. Tudo isso somente terá força e alcançará
a reflexão pretendida se lhe forem asseguradas as condições estruturais e o suporte
técnico pedagógico necessário. Isso, por sua vez, somente será possível quando se
exigir o compromisso do Poder Público em desempenhar o seu papel neste
processo.
Durante o século XX houve tentativas constantes de reintroduzir a Filosofia
como disciplina e também como instrumento de reflexão, no entanto a resistência
social, de grupos dominantes e de ações governamentais impediram que isso se
concretizasse. Durante os momentos de ditadura a Filosofia foi eliminada dos
currículos brasileiros. Somente após o último período ditatorial encerrado na década
de 1980 a Filosofia teve melhores perspectivas de firmar-se como disciplina. Isso
ocorre em nível nacional estadual e municipal.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais contemplam a Filosofia como disciplina
indispensável e obrigatória influenciando na elaboração das propostas curriculares
estaduais. Em Santa Catarina, na proposta curricular está expressa a tentativa de
efetivar o estabelecido nos parâmetros curriculares nacionais na tentativa de difundir
parâmetros norteadores para a disciplina de Filosofia:
Segundo os autores da proposta, a abrangência nacional desses
“parâmetros” não visa à uniformidade e nem à imposição de um
modelo preestabelecido de currículo e de organização de instituição
escolar; ao contrário, os PCN constituem as “diretrizes que nortearão
os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar uma
formação básica comum” (BRASIL, SEF, 1998, p. 49).
Para os professores que atuam na rede pública de Santa Catarina, depois de
decorridas duas décadas a elaboração da Proposta Curricular ainda não houve total
assimilação dos seus pressupostos, como se constata nas dificuldades de sua
implementação nas unidades escolares.
49
3.2 PROPOSTAS NOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS PARA O
ENSINO MÉDIO - PCNEM
É preciso compreender a responsabilidade dos educadores, das escolas e,
também das autoridades, pois é a partir da mobilização da comunidade escolar que
o Poder Público será motivado ou mesmo pressionado a promover a efetivação
derradeira da disciplina de Filosofia. Como ensina Alves:
Em outras palavras, serão as autoridades governamentais, as
escolas e os professores que, em última instância, definirão a
organização curricular mais adequada às necessidades particulares
de cada região ou escola (ALVES, 2002, p. 78).
Mesmo com a definição proposta nos PCNS de incentivo à Filosofia, sem uma
tomada de posição cabal, como se observa:
Os PCN servirão apenas de referência geral nesse processo para
nortear as mudanças que devem ser efetivadas no ensino
fundamental, no sentido de garantir a manutenção de alguns “pontos
comuns” que caracterizam e dão identidade ao fenômeno educativo
em todas as regiões brasileiras, respeitando, ao mesmo tempo, as
suas diversidades e particularidades regionais, culturais e políticas
(ALVES, 2002, p. 78).
É indispensável que uma tomada de posição definitiva seja tomada, para que
de vez a disciplina de Filosofia esteja presente em todos os currículos e todas as
escolas brasileiras, seja ela pública ou privada. Parece ser imprescindível uma
assimilação completa da necessidade da implementação da Filosofia de forma a
contribuir com as reflexões a que a mesma se propõe para tornar possível que as
escolas consigam motivar alunos e professores para as reflexões filosóficos
propostas nos Parâmetros Curriculares Nacionais.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais explicitam com clareza a inclusão da
Filosofia numa interação com as Ciências Humanas:
Em que pese essa competência, entretanto, cumpre destacar que,
embora imprescindível, os conhecimentos filosóficos não são
suficientes para o alcance dessa finalidade. Na área de ensino
Ciências Humanas e suas tecnologias – Diretrizes Curriculares
Nacionais, Parecer Nº 18/98: “nesta área se incluirão também os
estudos de filosofia” (Parâmetros Curriculares Nacionais, 1999, p.58).
Para a Filosofia está posto o desafio de promover reflexões capazes de
provocar sentimentos de mudança nas relações interpessoais e sociais, favorecendo
o surgimento e afirmação de uma mudança positiva do ser humano e nas suas
atitudes e forma de vida.
50
3.3 A REFLEXÃO FILOSÓFICA E A POSSIBILIDADE DE MUDANÇA NO MODO DE
PENSAR E VIVER
Com as novas proposições dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs a
Filosofia passa a ter novos espaços nos currículos e propostas pedagógicas. Num
primeiro momento ainda sem definição disciplinar, mas como fundamento para a
reflexão e construção de uma nova forma de pensar e agir.
Isso influência também nos estados, em Santa Catarina a Proposta
Curricular, já na sua introdução define sua posição em favor do papel de a escola
possibilitar a reflexão, de pensar o modelo de sociedade, das relações de trabalho e
sociais.
É evidente que não há proposta curricular sem fundamento explícito ou
implícito, em alguns eixos que a orienta e fundamenta. Não há possibilidade de uma
proposta curricular se fundamentar no espontaneísmo, sem que haja uma referência
a partir do qual a mesma se fundamente. Para o momento de sua elaboração na
década de 1990 o desafio da reflexão representava, ao mesmo tempo, uma ousadia
e um desafio. Nesse sentido está expresso na introdução da Proposta Curricular
Catarinense:
Entendemos como eixos fundamentais uma concepção de homem e
uma concepção de aprendizagem. Pela primeira, decide-se que
homem se quer formar, para construir qual modelo de sociedade.
Conseqüentemente, escolhe-se o que ensinar; pela segunda (que
não está descolada da concepção de homem), escolhe-se a maneira
de compreender e provocar a relação do ser humano com o
conhecimento. Para a Proposta Curricular de Santa Catarina, o ser
humano é entendido como social e histórico. No seu âmbito teórico,
isto significa ser resultado de um processo histórico, conduzido pelo
próprio homem. Essa compreensão não consegue se dar em
raciocínios lineares. Somente com um esforço dialético é possível
entender que os seres humanos fazem a história como elaboração
humana é capaz de sustentar esse entendimento, sem cair em
raciocínios lineares (HENTZ. In: Proposta Curricular/SC 1998, p.15).
Naquele momento, o sócio-interacionismo que norteia a Proposta Curricular
Catarinense era a opção que permitia ensejar e construir espaços de discussões e
reflexões sobre os diversos temas de importância social, cultura e educacional, até
então relegados pelas condições educações da época.
De acordo com a proposta é preciso compreender a escola como um espaço
sócio-cultural em que os seres humanos agem através de alianças e conflitos, de
51
aceitação ou transgressão. Assim sendo, reconhecido o espaço escolar como um
ambiente que pode ser questionado, abrem-se espaços de reflexão que podem
contribuir ou influenciar o surgimento de alternativas de construção curricular com
novos parâmetros que permitem as discussões próprias das reflexões filosóficas. As
reflexões são inerentes ao ser humano. A partir delas se estabelecem os caminhos
que pode/deve percorrer e as relações com o meio e com a sociedade.
No entanto, esta nova opção curricular não pode ser uma construção isolada
do professor, pois carece de envolvimento da comunidade escolar, permitindo sua
apropriação pelos diferentes segmentos, como ensina Edgar Morin (2002, p. 30):
“Mesmo o conhecimento mais sofisticado, se estiver totalmente isolado, deixa de ser
pertinente”. Esses espaços de interações pretendidos, que aconteçam nas escolas,
podem contribuir no desenvolvimento do ensino-aprendizagem, especialmente
incluindo as reflexões filosóficas.
Com a introdução/reintrodução das reflexões filosóficas muitos paradigmas
passaram a ser questionadas pela grande controvérsia gerada nas escolas na
discussão de teorias contemporâneas. Mesmo assim em muitos campos
conflitantes, a situação permanece inalterada até o momento. Isso tem provocando
conflitos entre profissionais que atuam com conteúdos que permitem essa reflexão,
como a História, a Sociologia e especialmente a Filosofia. Aqui poderia ser
imaginado que diversos motivos favorecem a permanência dos conflitos, como a
formação dos professores que estão atuando e mudança na orientação curricular.
A educação no século XXI deve sentir ainda a influência desse campo de
forças conflituosas, como a falta de democracia e a negação da possibilidade do
debate de temas relevantes. Essa condição gerada no século passado, e
repassados a este século através de uma interface ainda pouco conhecida e carente
de análises mais duradouras e profundas, tendem a persistir na sua trajetória.
3.4 OS GRANDES TEMAS A SEREM DISCUTIDOS NAS AULAS DE FILOSOFIA
Para os desafios educacionais do século XXI, a perspectiva de Edgar Morin,
apresenta aspectos panorâmicos do conhecimento, que nos remetem para o seu
perfeito entendimento. Morin ilustra esse momento com magnitude:
52
O que se constata diante dessa imensa problemática é a resignação.
Lembremo-nos incessantemente que não estamos mais na época de
Pico de la Mirandola que podia abranger em sua mente todo o saber
contemporâneo, como se o problema hoje fosse simplesmente
adicionar os conhecimentos e não organiza-los (MORIN, 2002, p.
30).
Os conhecimentos estão em plena ebulição, em todos os aspectos e campos
das ciências. Com essa nova situação é necessária uma nova proposta pedagógica.
Nesse aspecto vem se destacando a interdisciplinaridade que no parecer de Morin
(2002), diante da multiplicidade de opções disponíveis é preciso analisar que,
conhecer e pensar não é chegar a uma verdade absolutamente certa, mas dialogar
com a incerteza.
Neste contexto resta um desafio aos professores, especialmente das áreas
consideradas mais identificadas com essas reflexões como a Sociologia e a
Filosofia. O professor de Filosofia deve fazer o meio de campo necessário, mas não
ser parcial ou seletivo em tomadas de decisão que somente o aluno deve decidir sim
ou não a seu favor, ou a coletividade a que pertence. Segundo Charlot (1986, p.
151): “[...] ao mesmo tempo que, a inadaptação da escola à vida, denuncia-se sua
subordinação ideológica ao meio: a escola serve aos interesses econômicos e
sociais da classe dominante, cuja ideologia difunde.”
As escolas geralmente enfatizam certa competitividade incrustada em um
currículo reprodutor de sistemas do qual faz parte, sem conseguir efetivar reflexões
que permitam transpor a restrita relação da sala de aula. O professor, muitas vezes,
utiliza a Filosofia como disciplina de aproximação do aluno com seu interior
contemplativo, deixando de ajudá-lo a refletir sobre as diversas circunstâncias
desafiantes que lhe são apresentadas. Como as relações de trabalho, os conflitos
sociais e as mudanças nas ciências e na tecnologia.
Nesta condição, caso o professor não tenha a habilidade de explicitar as
situações desafiantes e conflituosas pode provocar confusão nos alunos ao partirem
para a reflexão, como esclarece Charlot:
A ambigüidade dos valores, em todos os seus âmbitos, pode deixar
os alunos confusos, pois a tomada de decisão está encabeçada em
alguns pressupostos que por venturas são colocados a professor de
filosofia, que estão ou não preparados para dar explicações com uma
certa coerência mínima, e principalmente com conteúdo analítico que
atenua impactos dessas concepções em sua formação de caráter e
53
personalidade. Para a filosofia a criança é um ser ao mesmo tempo
educável e corruptível. (CHARLOT, 1986, p.113).
É preciso que o professor dedique atenção especial aos aspectos evolutivos
das relações sociais, das ciências e da tecnologia que impactam a formação, as
relações de trabalho e geram necessidade de permanente adaptação na forma de
promover as reflexões filosóficas nas escolas e fora dela.
A Filosofia como ciência não deve contrapor-se a Filosofia como disciplina
que, ao ser ministrada pelo professor, toma dimensões conotativas que muitas
vezes transpõem causas inerentes de sua aplicação. Os resultados da
impossibilidade da discussão da Filosofia nas escolas impediu sua contribuição nas
reflexões dos temas sociais que contribuem para a formação da cidadania.
Há consenso que os conhecimentos de Filosofia são necessários para o
exercício da cidadania, bem como para a formação geral dos alunos, nas escolas,
isso está expresso no texto dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio
– PCNEM, sobre a Filosofia.
Os problemas se confundem ao analisar os Parâmetros Curriculares
Nacionais do Ensino Médio, pois pretende-se introduzir discussões transversais,
mantendo a estrutura da escola tradicional. E de outra banda a Legislação vigente
transpira resquícios das práticas autoritárias da ditadura. Como esclarece Alves:
[...] se o currículo é disciplinar e não transversal, de acordo com a
análise dos temas transversais que fizemos, em que vimos que para
o currículo de fato não ser disciplinar precisaríamos romper com o
modelo da escola tal qual temos atualmente, por que então tanta
relutância e hesitação em tornar a filosofia disciplina obrigatória, a
exemplo do que acontece com língua estrangeira moderna, ensino
da arte e educação física? Com base na história da filosofia no
ensino médio, sobretudo das últimas décadas, temos que reconhecer
que a situação atual não poderia ser diferente, pois qual é o Projeto
de LDB que logrou ser aprovado? Quem o projetou e aprovou
representava que interesses? As forças que apoiaram e viabilizaram
a aprovação da atual LDB (lei n. 9.394/96) eram ligadas a quem no
período da Ditadura Militar no Brasil, que nunca é demais lembrar,
“excluiu” a filosofia do ensino secundário? (ALVES, 2002, p. 103,104)
Mesmo com esse quadro o professor de Filosofia pode posicionar-se de
forma inovadora em sua maneira de ministrar aulas, permitindo que os
conhecimentos e experiências adquiridas de alunos e professor sejam valorizados e
potencializados. Desta forma é possível proporcionar aulas cujas reflexões não se
54
limitem a meros aspectos delineados previamente, e sim contemplem a habilidade
de cada aluno em expressar-se de acordo com a sua peculiaridade específica.
O diálogo filosófico deve ser um ponto chave para o professor de filosofia,
onde o assunto a ser tratado deve ser demarcado para que esse diálogo não venha
a se tornar um simples devaneio de idéias desconexas e particularidades fúteis para
o aprendizado mútuo.
O professor com formação acadêmica em Filosofia, ou mesmo o que apenas
ministra aulas da disciplina deve fazer uma análise periódica para não incorrer no
erro de ser apenas mais um projeto que através de suas profecias arrebanhe certos
seguidores. A sua formação universitária, específica ou não devem dar-lhe
convicção de seu papel frente aos alunos, que esses não são meros ouvintes ou
espectadores, mas agentes de suas próprias transformações.
A formação do professor não deve cair no descaso social, mas a pujança
desse título deve tornar válido o papel do mestre em explicitar certos conteúdos
programáticos de maneira transparente e esclarecido, para que o aluno não
enigmatize o caráter social e transformador que a Filosofia traz em seu bojo.
É indispensável refletir também sobre a relação do professor de Filosofia com
a proposta pedagógica que vem sendo aplicada, pois ela pode ser contraditória às
necessidades reflexivas da disciplina:
A própria Filosofia e o professor dessa disciplina no modo em como
vêm sendo ministradas estas aulas, vem num geral quase que
respaldando uma reprodutividade inanimada de desalentos quanto
ao ânimo de estudá-la. É preciso opor a uma pedagogia ideológica,
que camufla as realidades sociais e justificam assim a opressão, a
desigualdade e a injustiça, uma pedagogia que leva verdadeiramente
em conta a dimensão social da educação (CHARLOT, 1986, p. 231).
As correntes filosóficas e sua apresentação e debate, pelos mestres em sala
de aula, deve ser autênticas para que o interesse dos alunos se conserve e se
reproduza, pois os assuntos em que a filosofia se propõe a estudar fazem parte em
grande maioria a aspectos concernentes a valores sociais.
O professor não pode somente priorizar aspectos únicos e a partir daí dar
andamento a sua aula monótona, mas elencar assuntos que se entrelacem, pois é
sabido que alunos querem e precisar de múltiplas facetas para que lhes se prendam
a atenção.
55
Os guardiões da cultura-ideológica, que na concepção de Bordieu são os
“grupos de status”, apregoam que não é necessário ter professores de filosofia,
principalmente com perfil de fomentar a reflexão, assim não seria também
necessário aprimorar a sua formação acadêmica. Segundo eles a Filosofia ou o
processo de filosofar deve ser delegado apenas a alguns iniciados que são
geralmente considerados vítimas de mecenas de uma situação política vigente e
principalmente dominante.
Numa visão mais flexível e plural o professor de Filosofia deve ter voz ativa
não passiva em seu local de trabalho. Ele não pode permitir que esta disciplina
esmoreça a mercê de interesses pedagógicos que tendem a reproduzir
fisiologicamente e morfologicamente uma cultura subordinada a critérios obscuros e
depreciativos. Isso não é apenas na relação professorXalunoXFilosofia, para a
classe de professor dessa disciplina mas também, comprometido com toda
historicidade do ser humano.
A filosofia no que concerne o entendimento não pode ser um simples modelo
pedagógico, mas sim um instrumento emancipador do ser humano na sua vida, nas
relações de trabalho, nas atividades sociais e na construção da cidadania.
Desenvolver as qualidades filosóficas da vida cotidiana, atuando no meio
social e nas relações estabelecidas como um ser biológico, social, histórico e cultural
é um dos desafios postos aos professores que atuam na disciplina às escolas que a
introduzem em seus currículos e aos filósofos contemporâneos. Os conceitos
elaborados
no
cotidiano
são
desenvolvidos
ao
decorrer
das
atividades
experimentadas pelas crianças, jovens e adultos nas relações sociais, partindo de
suas ações concretas às mais abstratas.
A disciplina de Filosofia formal, dos conceitos científicos transformam
gradualmente a estrutura dos conceitos cotidianos do educando e ajuda a organizála num sistema, isso promove a ascensão do mesmo para níveis mais elevados de
desenvolvimento interdisciplinar.
A escola tem papel importante a desempenhar nesse processo de construção
e reconstrução no que tange a ação e a interpretação no processo educativo, na
apropriação do conhecimento historicamente elaborado. Perpassam também sua
56
responsabilidade na participação do sujeito autônomo, na elaboração e reelaboração
de uma sociedade mais justa, na valorização humana.
Isso independe de ser a criança, o jovem e o adulto, pois todos devem ser
vistos e tratados, como um ser de realizações pessoais e sociais, comprometidos
consigo mesmo, com o outro, com o mundo e com o transcendente.
Por mais que não se saiba o que seja Filosofia, ela pode estar presente ao
refletir sobre as características locais e regionais em espaços e tempos
determinados. No nosso exercício do filosofar, como um processo para outros
lugares e épocas ampliando a cosmovisão do filosofar, está o principal desafio de
diplomados ou não em Filosofia. É preciso pensar em nossa emergência, o nosso
desafio, enfim uma Filosofia de vida do dia – a – dia, uma vez que o conhecimento
do passado esteja compreendido até o momento atual.
Há que assimilar o pensamento anterior, mas não copiá-lo na construção de
uma Filosofia que nos possibilite a compreensão e a direção de nossas vidas,
demonstrando seus sentidos, seu significado e sua necessidade. Recentemente a
produção filosófica tem crescido em quantidade e qualidade, iniciando-se pelo
esforço permanente nascido de nossos anseios, seja a nível individual ou coletivo.
É provável que a perceptível popularização da reflexão filosófica esteja
diretamente relacionada com a instituição da disciplina nas escolas brasileiras. De
acordo com Luckesi (1995, p. 267): “A humanidade vem, ao longo do tempo,
exercitando-se na busca soluções e formulando crítica de sentido para a existência
do ser humano em cada uma das épocas e lugares.”
Implica dizer que a disciplina de Filosofia é indispensável para a reflexão
crítica dos valores humanos, como a ética, a cidadania, a solidariedade e a
dignidade humana. E que esse precisam ser avaliados e reavaliados a cada
momento histórico. Tomar postura e construir um novo ser humano, uma nova
sociedade e um mundo novo articulados com as necessidades e desejos de todos e
para todos.
Temos que filosofar sobre o nosso cotidiano, apresentando soluções
estudadas e refletidas com base na práxis flexível e plural de pensamentos que
permitam e contemple os desafios próprios da Filosofia e os decorrentes da
57
expectativa humana. Sempre levando em conta o contexto real no qual está inserido
o elemento da reflexão e os próprios motivos dela.
A disciplina Filosofia procura uma compreensão ampla e profunda das
relações sociais e aspectos éticos que envolvem os seres humanos e suas relações.
Situa-se no todo, não tem limites e por isso deve ser a base para a reflexão no
campo das ciências sociais e humanas da realidade que os permeiam. Torna-se
uma força de atuação, de mudanças e compreensão do mundo real e imaginário. É
ela que pergunta, indaga, questiona, analisa, denuncia, critica e faz transformar as
diversas realidades.
Assim, o estudo desse campo das relações humanas e sociais requer uma
abordagem mais comprometida com as realidades apresentadas por alunos e
professores na relação escolar e por outros agentes fora dela. É na dinâmica da
diversidade que o ser humano se faz e se refaz a cada instante.
A fundamentação para a compreensão da sociedade capitalista está baseada
nas relações homem – sociedade, muito estabelecidas nas lutas de classes. Sejam
elas realizadas o campo de conflito armado, como também nas instituições
institucionais, morais, religiosas, pedagógicas, políticas legais ou não de que as
classes dominantes fazem uso para manter a dominação e que essas culminam nas
estruturas do pensar.
Atualmente outras concepções emitem tessituras acerca das estruturas do
pensar e das relações de classe e de poder. Entre estes autores é possível observar
os olhares de Morin, como, por exemplo, na discussão da Teoria da Complexidade.
A atitude da Filosofia é possibilitar o desmascaramento das incoerências, da
alienação e das ideologias apresentadas, bem como as ocultas a elas. Trata-se das
revelações vividas e as funções da vida prática. Pois a vida é maior que a ciência
ou de qualquer outro discurso sobre ela própria. A final para que serve a Filosofia? E
o que fica dessa trajetória de indagações, desafios e reflexões?
Nascemos, existimos em sociedades articuladas, com suas estruturas de
pensar, sentir e agir em linguagens e valores estabelecidos. O desenvolvimento de
nossa consciência transformadora acontece na medida em que há um procedimento
qualitativo e quantitativo do despertar pessoal e social.
É preciso despertar e
58
recuperar uma consciência religiosa, mítica e humana, que se recria sob novas
necessidades a cada momento histórico.
É mister que o aluno saiba pensar por conta própria, sendo a escola uma
aliada importante na transformação da sociedade para melhor. Elevar a função e
responsabilidade do professor como sujeito e ao mesmo tempo como agente
responsável para pensar a prática educativa e social, estamos, ao mesmo tempo,
reconhecendo a necessidade de reflexão acerca destas questões e propondo
desafios ao mesmo. Assim, é importante compreender que o espontâneo do dia–a–
dia não é suficiente para exercitar a reflexão e possibilitar o avanço, mas carece de
embasamento no processo histórico–cultural.
A educação deve ter por objetivo a elevação cultural via ensino, preocupandose com uma aprendizagem dos educandos que leve em consideração o processo de
continuidade e ruptura cultural, adaptada e adequada coerentemente com seus
objetivos e operações avaliativas. Faz-se necessário auxiliar o educando a dar um
salto na interpretação do cotidiano para uma interpretação elaborada da prática
social, como ensina Luckesi, (1993, p. 130): “O interesse de cada um de nós e de
cada criança que está na escola é ter possibilidades de compreender a realidade e o
mundo que está a nossa volta, de uma forma mais ampla e significativa”.
O conhecimento escolar poderá vir a ser um conhecimento significativo e
existencial na vida dos seres humanos, se ele chegar a ser incorporado pela
compreensão, exercitação e utilização nos desafios diários. O que importa é que
cada pessoa, cada escola, cada criança, cada jovem adulto, consiga entender a
realidade que está a sua volta e a transcendê-la.
Destina-se também a entender as articulações dos homens e das mulheres
em sociedade para mudá-la, aprimorando-a, libertando de todas as formas de
alienação e de opressão. Nesse sentido, o ensino de Filosofia se estende a todos os
campos do saber humano e também nos diferentes campos e níveis da
compreensão da realidade em que o homem está relacionado.
Refletir sobre a humanidade, os acontecimentos culturais e sócio-políticos do
mundo em geral e das realidades, também é um desafio da Filosofia que deve ser
perseguido. Com essa postura passamos a buscar uma maior compreensão e
59
consciência de realidades, que nos sirvam de apoio para a nossa práxis cotidiana.
As nossas reflexões transformam-se à medida que transformamos nossa práxis.
Assim, o trabalho de reflexão filosófica, identifica-se com o movimento da
própria consciência em sua busca no desvendar o real, superando as contradições e
os limites do conhecimento filosófico em sua dialética.
Repensar a formação do aluno, do professor requer que se valorize a ação
pedagógica, permitindo a construção de espaços na escola onde se possa observar,
analisar, atuar e refletir, bem como provocar o desenvolvimento de capacidades e
competências implícitas no conhecimento, na ação e na reflexão.
Portanto, a Filosofia propõe desafios ao ser humano, sujeito que na
racionalidade mantinha, muitas vezes a fixação do conhecimento no dogmatismo e
no sectarismo. A Filosofia é dinâmica, aberta a novas concepções de homem,
sociedade e mundo, como ensina Gramsci:
[...] o filosofar é próprio a todos os homens e mulheres, crianças,
jovens etc. [...] ainda que a seu modo, inconscientemente (porque,
inclusive na mais simples manifestação de uma atividade intelectual
qualquer, na “linguagem”, está contida uma determinada concepção
do mundo). Deve-se destruir o preconceito, muito difundido, de que a
Filosofia seja algo difícil pelo fato de ser a atividade intelectual
própria de uma determinada categoria de cientistas especialistas ou
de filósofos profissionais (GRAMSCI, 1995 p. 10-11).
A Filosofia se manifesta ao ser humano como uma forma de entendimento da
existência do homem, das coisas e do universo. Tem por finalidade buscar, o bem, a
emancipação dos oprimidos e de povo sofrido. Todos têm o dever e o direto ao
conhecimento e ao filosofar, seja criança, adulto ou velho, ensina Luckesi (1993, p.
24): “Todos têm uma forma de compreender o mundo, especialistas e não
especialistas, escolarizados e não escolarizados, analfabetos e alfabetizados”.
Agimos em busca de algo que venha contemplar interesses seja individual ou
coletivo, simples ou complexos, pois é sempre uma reflexão sobre o significado das
coisas, das ações.
A Filosofia é uma força e um sustento do agir, na defesa da vida e da
emancipação humana. Inventar, criticar e reconstruir são processos inevitáveis da
Filosofia para a superação da práxis num processo dialético:
O desafio presente é o de evitar a separação entre “ensinar Filosofia”
e “aprender a filosofar”, pois, ao tomar em consideração apenas um
60
desses aspectos, poderemos incorrer no risco, de um lado, de
minimizar a importância do conteúdo e o papel do professor, e, de
outro, sobrepor métodos e técnicas de ensino como respostas aos
desafios da sala de aula. Entretanto, não se trata de menosprezar
um aspecto em detrimento do outro, mas que tanto o aluno que
estuda na universidade, quanto aquele do ensino médio possam ser
levados a aprender a filosofar mediante o estudo da própria Filosofia
(CARMINATI, 2003, p. 75-76).
Ensinar o aluno a pensar, refletir, é tarefa fundamental para um despertar
para a vida e para o mundo e a filosofia uma forma dessa manifestação e
transformação social. Ela contribui para que crianças, jovens e adultos aprendam e
contribuam para a interdisciplinaridade a fim de possibilitar e imprimir nas pessoas
as idéias do bem, da justiça e da honestidade. A escola é espaço privilegiado para
essa reflexão:
Desde a infância a escola exerce seu papel sobre o cidadão. A partir
do pré-primário, inculca-lhe durante anos, os anos em que a criança
está mais ‘vulnerável’, entalada entre o aparelho de estado escolar
saberes práticos envolvidos na ideologia dominante [...] por volta dos
dezesseis anos, uma enorme massa de crianças cai na produção:
são os operários ou os pequenos camponeses. A outra parte da
juventude escolarização continua: e, seja como for, faz um terço do
caminho para cair sem chegar ao fim e preencher os postos dos
quadros de médios e pequenos empregados, de pequenos médios
funcionários, pequenos burgueses de todas as espécies (SAVIANI,
1987, p. 65).
É mister que se faça da escola uma instrução democrática do fazer, pensar,
conhecer, enfim, que possibilite a construção da libertação, encontrando espaço
para a solução de problemas sociais do dia-a-dia. Tanto a escola como instituição e
a filosofia como instrumento do saber, devem estar em equilíbrio na reconstrução de
uma educação condizente com os princípios humanos. Cabe ao professor de
filosofia agir de uma maneira consciente, reflexiva e transformadora, levando os
alunos a pensar estrategicamente as realidades, para poder escolher os caminhos
que desejam seguir.
O conhecimento somente é conhecimento quando implica em modos de
ação. Melhor se conhecer é um saber aplicado com finalidades solidárias. Portanto,
não é possível imaginar um único conhecimento ou forma de construir ou reconstruir
modos de vida, especialmente no espaço escolar, como assinala Alves:
Pouco adianta chegarmos a um consenso a respeito do modo mais
“perfeito” de se ensinar filosofia na educação básica se não houver
condições concretas, reais, objetivas para tanto. Para que toda essa
discussão não se torne inócua e uma perda de energia teórica e
61
prática, é preciso intensificar a luta por uma legislação favorável a
uma presença clara e explícita da filosofia no currículo. A
reformulação da lei, todavia, não deve ser encarada como uma
garantia definitiva, uma vitória total, mas como um respaldo legal
imprescindível, para que a filosofia não apenas se faça presente no
ensino médio, mas que essa presença seja de fato substancial e
proveitosa, pois, se fosse assim “tão simples”, apenas constar como
lei, então não teria sentido estarmos aqui discorrendo sobre este
tema. (ALVES, 2002, p. 106-7).
A escola, ao oferecer um espaço afetivo, motiva o aluno e proporciona
atividades significativas, para que a aprendizagem seja vivida prazerosamente. Isto
implica inúmeros desafios ao educador, como por exemplo, que saiba com quem
está trabalhando com suas características.
Os níveis de conhecimento refletem a realidade em que cada aluno está
inserido, para depois levá-lo a compreender os assuntos em sua totalidade. Assim:
Se aceitarmos que a educação é mediação das mediações históricosociais da existência real dos homens, e que o currículo é uma
mediação de nível simbólico, da educação, impõe-se que, no caso do
2º grau [ensino médio], as mediações curriculares assegurem
elementos que subsidiem a formação dos adolescentes de modo que
eles possam entender e vivenciar sua inserção na realidade
histórico-existencial (SEVERINO, 1999, p. 6).
A prática educativa pode ser efetiva na reflexão e não um mecanismo de
imposição de concepções ou idéias. Pode ser um modo de exigir do educando uma
tomada de posição favorável ao desejado por ele, para satisfazer a sua vontade
como aprendente e como ser humano. Com essa compreensão:
Trabalhar conteúdos em sala de aula não implica uma agressão ao
indivíduo e à sua consciência, como se ele fosse apenas depositário
de um saber que hipoteticamente não possui, e sim consiste em
munir esse educando de elementos teóricos e metodológicos para
que ele faça a crítica de si mesmo e do seu mundo, no sentido de
auxiliá-lo a tomar consciência de si, do próprio pensamento, do que
pensa e por que pensa o que pensa e a partir de quê pensa. [...]
(ALVES, 2002, p. 121).
Promover o preparo de professores responsáveis, que refletem sobre suas
práticas como situações a serem melhoras e reconstruídas com os alunos e o
conjunto dos membros da escola, em formas partilhadas e democráticas. Um
professor capaz de instituir novas relações entre o saber pedagógico e o saber
científico. Isso significa que a formação filosófica acontece, desde as séries iniciais,
no ensino médio e na vida cotidiana, num processo de inovação, experimentação e
62
investigação articulada com realidades e práticas educativas como um processo
permanente.
Os envolvidos nesse processo de reflexão devem colaborar e propor
alternativas. Strieder, salienta:
Parece bastante animador prever que caberá a educação um dos
papéis determinantes na criação de sensibilidade social que se faz e
se fará necessária para re-orientar e re-estimular a humanidade para
vivências plenas e dignas para todos os humanos. Ela é também
uma responsabilidade que exige a presença movedora do desejo dos
docentes a se lançarem em águas mais profundas daquelas
constantemente sugadas e pulverisadas pela imediatidade da
linearidade e da certeza (STRIEDER, 2002, p. 224 e 225).
É necessário superar a crença no poder absoluto de uma cultura ou disciplina
dominante
em
selecionar,
organizar e
distribuir os
conhecimentos e
os
compromissos. Compreender a escola como um espaço sócio-cultural em que os
sujeitos agem através de alianças e conflitos, aceitação de normas e transgressões
transdisciplinares. É importante o envolvimento da comunidade na construção do
currículo escolar das diversidades locais e regionais.
É indispensável que a escola proporcione interações diferenciadas para as
crianças, jovens e adultos em diferentes níveis de desenvolvimento do ensinoaprendizagem, sempre numa tentativa flexível e plural, como forma de exercitar a
reflexão e apropriar-se dos conhecimentos filosóficos.
63
4 SISTEMATIZAÇÃO DOS DADOS EMPÍRICOS
No presente capítulo, foi desenvolvida a reflexões sobre as respostas dos
estudantes e professores que colaboraram na presente pesquisa, de acordo com a
proposta metodológica, já descrita anteriormente.
Trata-se de um exercício reflexivo mesmo sendo preciso reconhecer
limitações impostas pelas opções metodológicas. O exercício também é influenciado
pela forma de expressão individual e pelas respostas obtidas a partir dos
questionários que podem suscitar dúvidas ou interpretações não adequadas aos
objetivos estabelecidos.
A opção foi por apresentar as falas colhidas divididas, por unidades escolares,
respeitando a fidelidade dos dados obtidos. Ressalto também que foram evitadas as
transcrições de respostas assemelhadas, para evitar a repetição, no entanto,
buscou-se manter a fidelidade do que foi recolhido.
Também contribuirão com a reflexão os diversos pensadores que oferecem
suporte teórico e embasamento da presente pesquisa. A seguir a discussão das
falas dos alunos, colaboradores.
4.1 REFLEXÃO SOBRE AS INFORMAÇÕES OBTIDAS JUNTO AOS ALUNOS
Ao apresentar alguns resultados da pesquisa saliento o quanto ainda é
provisória essa condição, bem como continuará sendo, mesmo concluída esta
etapa. Isso se deve as imensas possibilidades de construção e reconstrução do
conhecimento, de forma dinâmica e que continuará aperfeiçoando-se e modificandose a cada momento.
De forma semelhante a Filosofia considera que as verdades são provisórias:
As verdades são sempre provisórias, já que os critérios pelos quais
definimos o que entendemos por verdade dependem de sistemas
filosóficos que se diferenciam, mas que não são excludentes” (SILVA
e NESI, 2001, p. 7).
Optei por apresentar as questões individualmente, aglutinando as unidades
escolares. Para a reflexão serão trazidas as contribuições de diversos filósofos. A
64
idéia é que se tenha uma contribuição para a melhoria na aprendizagem, não só da
Filosofia, mas também dos demais conhecimentos.
Apresento algumas justificativas selecionadas com a intenção de possibilitar a
complementação das reflexões a partir dos autores que oferecem suporte teórico
para a presente dissertação. As respostas estão apresentadas da forma como foram
colhidas, mesmo que apresentem alguns erros ortográficos.
O objetivo desta forma de apresentação é manter a fidelidade do que foi
respondido pelos parceiros de pesquisa das quatro unidades escolhidas. São elas, a
EEB Nossa Senhora da Salete, EEB João XXIII, Centro de Educação Universos do
Saber – CEUS e Centro de Educação de Jovens e Adultos – CEJA.
A primeira questão, a seguir transcrita, que corresponde a de n° 3 no
formulário em anexo, inicio com os estudantes da Escola de Educação Básica
Nossa Senhora da Salete, do município de Maravilha.
3 A forma do professor apresentar os conteúdos é uma motivação
para pensar e refletir os conteúdos propostos?
( ) sim ( ) não
Justifique:
É importante apresentar que todas as respostas foram afirmativas, ou seja, as
respostas foram todas “sim”.
Retomando os objetivos, a presente questão está relacionada com os
elementos que motivam ou desmotivam a participação nas aulas de Filosofia.
A primeira fala de colaborador: “Nos faz compreender de forma real o
verdadeiro sentido da vida, tornando-nos indivíduos mais seguros em relação a
todos os meios de sobrevivência”. Essa afirmação pode ser comparada COM o que
ensina Assmann, sobre reflexão acerca da reflexão filosófica:
Ou seja, existem motivos pragmáticos de sobrevivência e
comodidade que nos inclinam a não pequenas doses de positivismo
imediatista e preguiça hermenêutica. Não sempre estamos
preocupados com ter um horizonte de descobertas. Dessa forma,
gostamos de acomodar-nos em concepções simplificadas, sem
refletir que isso, por um lado, nos ajuda a sobreviver, mas, pelo
outro, restringe nossas possibilidades vitais (ASSMANN, 2001,
p.102).
65
Um outro colaborador justifica dizendo da necessidade de aprofundar os
estudos. Outro justifica sua escolha pela oportunidade da participação nas aulas,
exercitando a reflexão:
Pois ficamos curiosos com o conteúdo, e com isso vamos atrás para
aprender e achar mais sobre esse assunto.
Pois é uma maneira em que todos os alunos participaram, refletindo
sobre o conteúdo.
É perceptível nas falas dos colaboradores que há uma ligação entre os
conteúdos da Filosofia e a produção do conhecimento, especialmente ao falar da
aprendizagem. A relação da Filosofia com a construção e reconstrução do
conhecimento tem uma relação com o processo educacional. É possível afirmar que
o processo educacional está ligado de forma indissociável à Filosofia:
O processo educacional é uma das atividades humanas mais
dependentes da Filosofia, porque visa à formação das novas
gerações e isto se dá fazendo-se algumas escolhas de caráter ético,
estético, lógico e epistemológico. E estas e outras mais, são
questões discutidas no âmbito da Filosofia educacional (SILVA e
NESI, 2001, p.7)
Em outras contribuições também são apresentados elementos que ligam o
conhecimento
com
a
Filosofia,
que
na
essência
caminham
juntos
no
desenvolvimento da humanidade.
Os estudantes da Escola de Educação Básica João XXIII, têm justificativas
semelhantes, no entanto, introduzem elementos novos como os debates como
elemento motivador das aulas de Filosofia:
São realizados debates em sala de aula sobre o conteúdo.
Pois, apresentar os conteúdos de forma diferente o que faz com que
os alunos se sintam motivados para aprender de forma mais
descontraída.
Faz com que possamos refletir e pensar, não só em nós, mas sim em
toda a sociedade.
Esta concepção guarda uma relação com o papel da Filosofia em refletir
acerca dos problemas que afetam a humanidade, como se observa nas afirmações
de Silva e Nesi:
Filosofia: é uma crítica constante a respeito de todas as coisas que
se referem ao homem e a sua vida, sem o compromisso de produzir
tecnologias que aumentem a produção de bens, mas, sim, o de
exercitar no homem justamente a faculdade que o faz humano –
pensar, refletir sua condição de homem, atribuir significados aos
seus atos e sentido à sua vida (SILVA e NESI, 2001, p. 15).
66
Outras falas indicam a mesma direção: “Sempre conseguimos fazer
uma boa discussão dos temas abordados, onde todos participam.” É possível
identificar, a partir das falas apresentadas uma tendência forte para as discussões e
apresentação diferenciada dos conteúdos e de interesse dos estudantes.
É preciso destacar que definir os conteúdos que devem ser estudados e
debatidos não é tarefa fácil para o professor de Filosofia. Talvez comparada a
dificuldade de filósofo em definir o que estudar:
Uma das tarefas mais árduas para o filósofo é definir o seu próprio
campo de estudo: a Filosofia. E isto acontece não por não saber
fazê-lo, mas sim, porque a Filosofia trata de temas que, para os
outros campos do conhecimento, as ciências, por exemplo, são
considerados óbvios e, portanto, de questionamento difícil e
irrelevante (SILVA e NESI, 2001, p. 14).
Para um dos entrevistados do CEJA, a questão três parece demonstrar uma
forma mais formal de apresentação do conteúdo da disciplina: “Porque são
mensagens que mostram a realidade da vida.” É possível respaldar a fala do
colaborador, com o pensamento de Dantas que afirma:
A filosofia não é apenas mais uma disciplina a ser ensinada e
aprendida, mas que nela se define, se pratica e se define, se pratica
e se põe em jogo a essência e a própria natureza de ensinar e
aprender – ao menos na medida em que entendemos a natureza do
processo educativo e a prática de ensinar e aprender, tal como
entendeu Paulo Freire, não como simples transferência de
conteúdos, ou mera aquisição e habilidades específicas, sejam elas
técnicas, comportamentais ou cognitivas, mas na verdade como toda
uma prática, todo um processo essencialmente emancipatório de
questionar e elucidar dialogicamente as condições de realização de
suas vidas, de sua própria história, do próprio mundo em que existem
(DANTAS, 2002, p. 61).
Por sua vez um entrevistado do Centro de Educação Universos do Saber –
CEUS, condiciona a motivação a forma do professor apresentar o conteúdo, para
motivar a participação dos estudantes: “Dependendo da forma que o professor
apresenta o conteúdo podemos gostar ou não gostar do conteúdo, e aí pensar e
refletir.”
Trata-se da postura do professor ou professora que é fundamental para a
motivação da aprendizagem dos alunos. No entanto, não pode recair sobre o
professor toda a responsabilidade pela motivação ou não dos estudantes. Ela
depende de outros fatores, como o próprio interesse do aluno e o incentivo da
escola, enquanto comunidade escolar.
67
O comprometimento do professor é indispensável na construção de uma
proposta pedagógica capaz de respaldar as diferentes contemplações dos
estudantes com respeito aos temas apresentados. Nesse sentido o profissional que
ministra temas de Filosofia deve ser capaz de motivar para o exercício de relações
indispensáveis ao aprendizado de significações sociais:
Nesse sentido, a ação do professor deve levar em conta o desafio de
transformar as experiências, gerando ambientes de aprendizagem e
construindo conhecimentos. Assim, esse profissional deve possuir
uma sólida formação filosófica e cultural a fim de que os
conhecimentos ensinados e construídos sejam interdisciplinares,
rigorosos e históricos. Além disso, os professores devem demonstrar
capacidade de pensar filosoficamente os diversos problemas trazidos
pelos alunos, sendo críticos e autocríticas, tanto em sua intervenção
no mundo profissional e cultural (CARMINATI, 2003, p. 60-61).
Ainda na mesma questão, que trata da forma do professor apresentar os
conteúdos, todos os estudantes, das diferentes unidades escolares responderam
“sim” na pergunta dizendo que a forma de apresentar o conteúdo pelo professor é
motivadora para discussão e reflexão dos conteúdos.
Uma reflexão de Altair Alberto Fávero, contribui na sugestão de possibilidades
que facilitam a aceitação e motivação para as aulas de Filosofia é o jeito aberto de
trazer e discutir e os conteúdos:
Numa perspectiva mais analítica, podemos afirmar que o aspecto
mais positivo que encontramos nas metodologias hoje utilizadas no
Brasil para o ensino de filosofia, na educação média é a abertura. [...]
Sendo assim, o professor de filosofia pode usar criativamente seus
conhecimentos e suas capacidades (FÁVERO, n° 64, 20 04, p. 273).
A seguir a questão de n° 4, que ainda está relacion ado com os elementos
motivadores, mas já indica o caminho da reflexão decorrente das aulas de Filosofia:
4 Que assuntos são relevantes para promover as reflexões da
disciplina de Filosofia?
Drogas, violência, filósofos famosos, e mostrar a vida como ela é.
Assuntos relacionados com o ser humano, sua vida, evolução,
assuntos da natureza. (EEB Nossa Senhora da Salete).
Veja-se destacado o quanto os assuntos de forte influência na vida cotidiana
propiciam a reflexão, na visão dos estudantes, desta unidade escolar, é o que trata
da vida. Outro colaborador da mesma unidade escolar, tratando de questões
relacionadas ä vida: “para ajudar a crescer na vida”. Ainda da mesma unidade
escolar: “assuntos relacionados com o ser humano, sua vida [...].”
68
As reflexões filosóficas devem contribuir não só com o presente, mas
preparar expectativas futuras. Mais uma vez as contribuições de Silva e Nesi:
Desse modo, a Filosofia, sendo um questionamento contínuo do
modo como nos relacionamos com a natureza, com os outros
homens, com o Belo, etc., alimenta a dúvida e a curiosidade, sem as
quais o conhecimento não avança; promove a reflexão, sem a qual a
realidade não é transformada (SILVA e NESI, 2001, p. 23).
No atual contexto, anunciado pelos meios de comunicação a questão da
natureza e ecologia torna-se tema para reflexão como sugere o colaborador. Não
uma natureza ambiental exclusivamente, mas a natureza que envolve as relações
humanas, a evolução e cenário das produções tecnológicas, como também destaca
Deon:
Vivemos, hoje, devido à globalização, ao desenvolvimento
tecnológico da informação (internet), às novas possibilidades na
genética (clonagem, eugenia, transgenia), sob constantes discussões
éticas. Novas discussões surgem sem que problemas éticos e
políticos antigos o tenham sido solucionados, tais como a miséria, as
desigualdades sociais, a exclusão, a discriminação contra as
minorias (negros, mulheres, índios etc.), o trabalho infantil, entre
outros [...]. Desse modo, a Filosofia, sendo um questionamento
contínuo do modo como nos relacionamos com a natureza, com os
outros homens, com o Belo, etc., alimenta a dúvida e a curiosidade,
sem as quais o conhecimento não avança; promove a reflexão, sem
a qual a realidade não é transformada (DEON, 2002, p. 105).
Os estudantes da Escola de Educação Básica João XXIII, ao responderem a
questão quatro, destacaram como temas a ética, a política e outros elementos de
grande importância e repercussão social: “Moral e ética, violência, trabalho,
educação, política, etc.” Essa contribuição encontra respaldo na composição teórica
a seguir:
Portanto é imprescindível que a regulação das relações e ações
humanas, próprias da ética, se instale no interior das empresas e,
sobretudo , na vida das pessoas. Acerca de uma ética adequada
para os tempos atuais cabe a contribuição dos filósofos “humanistas”
contemporâneos, mormente Jacques Maritain, que afirma ser
impossível supor a vida justa em sociedade sem a devida valorização
de todas as potencialidades do ser humano (FILOSOFIA
ciência&vida, 2007, Nº 5, p. 79).
Outro colaborador desta unidade escolar: “a vida, a morte, o pensamento
humanos e os atos dos mesmos”. Isso demonstra a profundidade dessa discussão,
que não é apenas apresentação do conteúdo, mas de debate, que além do interesse
demonstra a participação dos alunos. Discutir os aspectos éticos, as relações de
trabalho, política e educação resguardam o permanente questionamento sobre as
69
certezas e dúvidas, presentes em toda a existência humana. As dúvidas e incertezas
são companheiras da humanidade em todas as épocas. Silva e Nesi destacam que:
As dúvidas, especialmente as que se referem ao problema da
verdade e da justiça são clássicas, isto é, estiveram presentes no
espírito do homem antigo e continuam a nos causar espanto, porque
não estão resolvidas, do mesmo modo como o homem encontrou
uma solução par seu desejo de voar (SILVA e NESI, 2001, p. 23).
Se por um lado é preciso refletir sobre os temas de interesse social, político,
ético, de outro se faz necessária a prudência para evitar a imposição e ditadura de
conceitos e doutrinas. Nesse sentido alerta Lipman:
Se os professores adotam quaisquer princípios éticos particulares e
os impõem a seus alunos, ficam sujeitos à acusação de doutrinação.
[...], a escola não quer ser acusada de doutrinação, seja por algum
sistema absoluto de valores, seja por uma abordagem relativista de
valores. [...] A escola acha difícil conciliar suas obrigações de
educadora – e encorajar os estudantes a tornarem-se autônomos –
com suas obrigações para com os pais e a sociedade em geral – e
aceitar uma postura convencional com os valores pessoais e sociais
(LIPMAN, 1990, p. 92- 93).
Outro colaborador sugere: “Os assuntos que faz promover relacionamentos e
comportamentos, tendo atitudes.” Um dos compromissos indispensáveis à Filosofia
na escola, o seu comprometimento no processo educacional, com valores
decorrentes das relações sociais éticas e contributivas do processo de humanização
nos quais se destacam a autonomia, a liberdade e a criatividade. São variáveis
salientados por Silva e Nesi quando afirmam:
Da mesma forma que a Filosofia procura compreender a realidade de
forma genérica e sistemática, oferecendo os fundamentos que
sustentam a produção das ciências particulares, no campo
educacional a Filosofia visa compreender o processo educativo na
sua totalidade, fornecendo subsídios para o estabelecimento de
objetivos e diretrizes educacionais. Por exemplo: quando tomamos a
autonomia como um dos mais elevados objetivos da educação,
estamos assumindo a liberdade, a democracia e a criatividade
como valores a serem constantemente proclamados. (SILVA e NESI,
2001, p. 7).
Por sua vez, um dos colaboradores, do Centro de Educação de Jovens e
Adultos – CEJA afirma que os assuntos das aulas de Filosofia são importantes para
refletir sobre situações problemas da vida: “São assuntos interessantes que nos
ajudam a refletir sobre os problemas da vida.”
Outro colaborador do Centro de Educação Universos do Saber – CEUS, se
refere à inclusão nas discussões de temas como o senso comum e doutrinas: “o
70
senso comum, as doutrinas e as idéias principais de alguns filósofos.” as sugestões
dos alunos indica a importância e a abrangência das possíveis discussões a serem
possibilitadas em aulas de Filosofia.
As inúmeras sugestões feitas pelos alunos em relação a temas merecedores
de reflexão e olhar filosófico apontam para a abrangência da “cultura geral”:
[...] os temas mais presentes nos programas preparados pelos
professores são: cultura geral; filosofia antiga (em especial, o
surgimento da filosofia); ética; história da filosofia; teoria do
conhecimento; e política. [...] a filosofia no ensino médio se resume,
na maioria dos casos, a debates em torno de temas atuais, como
auxílio de referencias filosóficas, o que ajuda a especificar o que se
está entendendo por “cultura geral”. (FÁVERO, n° 64 , 2004, p. 271).
O desafio dos alunos de refletir sobre os temas que envolvem suas
experiências e vivências, tanto em contextos individuais quanto globais geram a
virtude de assegurar um processo reflexivo, mas também a insegurança ao
enveredar pelo viés de assumir compromissos acima das possibilidades escolares:
As escolas, contudo, tem suas próprias razões para estarem
apreensivas. Estão dispostas a ajustar-se às exigências de preparar
seus protegidos para a cidadania. Mas não se sentem totalmente
prontas para fornecer os valores pessoais que eram de
responsabilidade dos pais. A situação parece não apontar soluções
viáveis (LIPMAN, 1990, p. 10).
A manifestação a seguir tem uma significativa amplitude, demonstrando um
comprometimento dos estudantes frente a indicação dos conteúdos que contribuem
para a reflexão: “A vida, a morte, os pensamentos humanos e os atos dos mesmos.”
Uma colaboração ilustra a importância da Filosofia nas reflexões dessa
natureza, com vistas a formação de valores humanos:
Em discussões filosóficas com os colegas, os alunos aprendem a
formular e expressar seus próprios pensamentos, a ouvir e respeitar
as posições dos outros, a forjar e empregar critérios adequados para
a avaliação de conceitos e a adoção de valores próprios. (LIPMAN,
1990, p.10).
A quinta questão: “Quais reflexões filosóficas contribuem para a formação
humana e o mercado de trabalho?” Ela trata das reflexões da Filosofia, mas
relacionada com o mercado de trabalho.
Uma das respostas apresentadas chama atenção pela preocupação com a
felicidade. A princípio poderia ser dito que isto não tem relação com a Filosofia, no
entanto, ela perpassa todas as áreas do conhecimento. Como sugere Altair Alberto
71
Fávero (n° 64, 2004, p. 271): “Para além do problem a do “ensinar Filosofia” e
“aprender a filosofar”, acreditamos que o professor encontra-se diante de exigências
transversais e especificas da prática filosófica [...]”.
O tema da formação para o mercado de trabalho precisa ser objeto de
reflexão em outras áreas do conhecimento, além da Filosofia. O compromisso
também é filosófico já que, no aspecto formativo para o mercado de trabalho,
encontra-se envolvida a questão da satisfação pessoal, ou da própria felicidade.
Destacam os pesquisados a da família, como elemento intimamente
relacionado com os aspectos do mundo do trabalho. Outro destaque é referente a
formação da consciência a partir das reflexões filosóficas: “[...] formar uma
consciência e nos desenvolver emocionalmente para competir no mercado de
trabalho.”
De acordo com a fala do colaborador da EEB Nossa Senhora da Salete:
“Aprendemos a pensar diferente, refletir melhor sobre a vida. Aprendemos a não nos
contentar com o básico, mas sim, sempre querer mais.” Trata-se de uma fala que
expressa a motivação individual, como significante na reconstrução de expectativas.
A resposta do colaborador assemelha-se ao que se refere Lipman:
Os educadores devem desenvolver seu próprio pensamento, e para
tal, na expressão do autor, devem “afiar as ferramentas” intelectuais.
Os professores devem maximizar as oportunidades nas quais os
alunos exercitam seu raciocínio e aprendam a buscar, questionar a
investigar em lugar de esperar ou aceitar as respostas que lhes vêm
prontas. (LIPMAN, 1990, p.10).
Lipman desafia os professores para ampliar as pesquisas e estudos sobre
temas tratados Nas aulas de Filosofia.
Sobre a formação humana e a relação com o trabalho, há também percepção
da importância da reflexão filosófica, como se percebe na declaração de um dos
parceiros da pesquisa: “vão nos ajudar a formar uma consciência e nos desenvolver
emocionalmente para competir no mercado de trabalho.”
Para muito além do proposto pelo aluno, “competir no mercado de trabalho”,
existem objetivos maiores na vida que envolve outros desejos e necessidades de
realização enquanto pessoas, como muito bem destacado Lipman:
Além disso, diz Sócrates, devemos conhecer a nós mesmos,
conhecer nossas vidas. Isto é, é necessário que saibamos qual é
72
realmente nosso objetivo na vida; assim nossas chances de alcançálo serão muito maiores caso não saibamos. (LIPMAN, 2001, p. 12).
Uma resposta, de um colaborador do Centro de Educação de Jovens e
Adultos – CEJA, relaciona a proposição dos conteúdos com o comportamento
profissional: “Para que tenhamos um bom comportamento com as pessoas que
estão em nosso ambiente de trabalho.”
A Filosofia, ao surgir, se propunha refletir sobre questões científicas, sobre as
coisas da natureza, e, sempre considerando o humano e o controle que lhe
interessa ter de si mesmo. Então, cada indivíduo humano pretende controlar a sua
vida e ser o sujeito das ações a serem empreendidas. Isso podemos ver destacado
também por Lipman:
É necessário reconhecer como prioritário o interesse do indivíduo em
obter um melhor controle de sua própria vida, pois não há melhor
incentivo que ver nossa vida se aperfeiçoar com o nosso pensar
sobre ela. (LIPMAN, 2001, p.13-14)
Do Centro de Educação Universos do Saber – CEUS, uma das respostas
inclui o próprio estudante como elemento de estudo: “Um muito importante é sobre si
mesmo, pois se conhecer bem é muito importante [...]”, por possibilitar avaliar melhor
as chances no universo de um mercado de trabalho cada vez mais estrito.
O caráter e o fortalecimento emocional são elementos presentes nas falas
levando em conta o relacionamento social e do trabalho: “[...] para que possa
competir com as outras pessoas, não só no trabalho, mas também na vida.” O ato
de refletir filosoficamente de forma interativa com a própria vida já fazia parte dos
ensinamentos de Lipman:
A tarefa dos educadores de hoje é menos a de transmitir conteúdos
aos alunos e mais a de orientá-los a como buscar aquilo que
necessitam saber e como processar as informações para que dêem
subsídios para a aquisição de conhecimentos significativos.
(LIPMAN, 1990, p.10).
Entrando na formação pessoal, a questão seis apresenta o pensamento dos
estudantes do ensino médio. A pergunta formulada foi: “6 Qual a importância da
Filosofia para sua formação pessoal?” Algumas manifestações por parte dos alunos:
Nos torna humanos, fazendo com que nosso caráter amadureça.
Formação emocional de um cidadão para que possa competir com
as outras pessoas, não só no trabalho, mas também na vida.
Aprender a se relacionar com as pessoas.
Ajuda a desvendar os mistérios da vida de um modo diferente.
73
Um dos muitos desafios do educador, em especial do professor de Filosofia é
despertar, no aluno, esse interesse para as reflexões sobre a formação do caráter,
seu modo de relacionamento, e outros os aspectos da vida que contribuem no
processo de amenização dos impactos decorrentes das diferenças pessoais.
Os alunos também fazem alusões à honestidade e à responsabilidade. As
respostas demonstram a seriedade dos estudantes ao tratar da Filosofia: “[...] com a
filosofia podemos aprender a ser mais pacientes, honestos e responsáveis.” Ao lado
dessa postura prática algumas respostas falam dos mistérios da vida: “Ajuda a
desvendar os mistérios da vida de um modo diferente.”
Quando os alunos se referem a temas tão profundos e densos sobre
questões existenciais, pudemos visualizar indicativos da amplitude da Filosofia na
vida dos estudantes do Ensino Médio.
Ainda, para alguns dos entrevistados, a Filosofia influencia na afirmação
social do indivíduo, da reflexão ao comportamento social: “[...] a filosofia nos faz
pensar, rever nossos atos, pensar no passado para viver o futuro, ajuda-nos na
auto-estima.”
Uma das falas colhidas na Escola Educação Básica João XXIII, ilustra a
preocupação dos estudantes sobre a curiosidade que deve acompanhar o processo
de produção do conhecimento: “Faz com que pensemos antes de agir e que
possamos refletir, sobre o porquê das coisas.”
Do Centro de Educação de Jovens e Adultos – CEJA, uma resposta sugere
uma dimensão mais ampla da Filosofia: “É através da Filosofia que conhecemos o
mundo, que podemos entender o pensamento e aceitamos facilmente a opinião das
pessoas e criticamos de forma civilizada.”
Já um estudante do Centro de Educação Universo do Saber – CEUS,
expressa em sua resposta a preocupação com a evolução do conhecimento a partir
da Filosofia: “É importante para mim porque com a filosofia aprendemos a evoluir o
conhecimento, e pensar coisas do dia-a-dia que normalmente não sabemos ou não
pensamos.” Marilena Chauí ao comentar sobre a virtude e o bem conduz para a
reflexão da sociedade e seu papel a desempenhar, mas inclui o indivíduo nessa
reflexão:
74
Ao indagar o que são a virtude e o bem, Sócrates realiza, na
verdade, duas interrogações. Por um lado, interroga a sociedade
para saber se o que ela costuma considerar virtuoso e bom
corresponde efetivamente à virtude e ao bem; e por outro, interroga
os indivíduos para saber se, ao agirem, possuem efetivamente
consciência do significado e da finalidade de suas ações, se seu
caráter ou sua índole são virtuosos e bons realmente. (CHAUÍ, 2005,
p.181).
A partir dessas importantes contribuições e justificativas dos alunos, resta
iniciar a reflexão das falas dos professores.
4.2
REFLEXÕES
SOBRE
AS
INFORMAÇÕES
OBTIDAS
JUNTO
AO
PROFESSORES
A intenção da pesquisa junto aos professores foi tratar das diferentes
concepções que orientam os professores de Filosofia das unidades escolares
selecionadas no Município de Maravilha. Foram em número de quatro os
professores que responderam as questões apresentadas, sendo um de cada escola.
Após as questões de identificação, questionei os professores sobre a sua
responsabilidade pela motivação dos estudantes, compreendendo que é a forma de
apresentar que motiva ou não os estudantes:
3 A forma do professor apresentar os conteúdos é uma motivação
para pensar e refletir os conteúdos propostos?
( ) sim ( ) não Justifique:
A metodologia utilizada pelo/a professor/a sugere inquietudes e
investigações, ajudando tanto aluno quanto o professor, a
compreender melhor o mundo, equacionar problemas e encaminhar
soluções.
A fala do professor referencia a amplitude dos assuntos a serem tratados nas
aulas de filosofia, bem como, a relevância de determinada opção metodológica. É
importante frisar a observação da auto-inclusão no exercício de reflexão.
Ela expressa a intenção compreender os horizontes da vida e de
compreensão do mundo. Essa compreensão não é estática, pois,
sugere a identificação dos problemas, as reflexões decorrentes e as
possibilidades de soluções.
A compreensão do “mundo” deve ser ampla, incluindo o humano e o meio no
qual ele está inserido. O ser humano precisa tomar consciência de sua
75
responsabilidade
em
compreender
as
relações
estabelecidas,
sejam
elas
interpessoais ou com o meio.
Segundo eles, para ocorrer o aprendizado não é suficiente que a reflexão, por
exemplo, no caso da Filosofia resulte em uma mudança de conduta do ser humano.
Para os colaboradores é indispensável o desenvolvimento da capacidade de
inquietação frente aos desafios e a presença da capacidade de investigação e
instigação para a descoberta de novas possibilidades de reflexão, utilizando todo o
potencial do cérebro humano. Contribui nesse sentido o pensamento de Maturana:
Atualmente tendemos a considerar o aprendizado e a memória como
fenômenos de mudança de conduta que ocorrem quando se “capta”
ou se recebe algo do meio, o que implica supor que o sistema
nervoso funcione com representações. Já vimos como tal suposição
obscurece e complica tremendamente o entendimento dos processos
cognitivos. (MATURANA/VARELA, 1995, p.199).
Na questão quatro solicitamos também que os professores se manifestassem
em relação à quais assuntos consideram importantes para promover as reflexões: “4
Que assuntos são relevantes para promover as reflexões da disciplina de Filosofia?”
Algumas falas sugerem que todos os assuntos da atualidade são importantes
para reflexões na disciplina de Filosofia:
Tudo o que envolve o cotidiano (atualidades gerais).
Assuntos ligados ao significado da existência do homem, a natureza
humana e o processo de produção do seu estar no mundo, isto é, a
existência.
Nas falas apresentadas há indicadores relevantes, capazes de oferecer maior
consistência ao relacionar os assuntos próprios da Filosofia, ou seja, é adequado
para motivar a reflexão dos estudantes, para discussões da existência humana, sua
natureza e integração ao mundo. Com essa contribuição é possível dialogar com
filósofos clássicos e contemporâneos.
Reabrimos um espaço para tratar das contribuições de Sócrates, sem ignorar
a importância de outros pensadores clássicos da antiguidade, como também de
nosso cotidiano. Persiste forte a interrogação do conhecer-se a si mesmo para
reabrir forma relacionais junto aos outros.
É importante registrar a contribuição das indagações de Sócrates, nas
reflexões filosóficas, mas uma diferença assiste no momento, enquanto naquele
momento, era uma repetição do aprendizado das gerações passadas. Atualmente as
76
construções das reflexões são de profunda agilidade de respostas e discussões.
Nesse sentido reflete Marilena Chauí:
Sócrates perguntava aos atenienses, fossem jovens ou velhos, o que
eram os valores nos quais acreditavam e que respeitavam ao agir.
As perguntas socráticas terminavam sempre por revelar que os
atenienses respondiam sem pensar no que diziam. Repetiam o que
lhes fora ensinado desde a infância (CHAUÍ, 2005, 181).
Ainda, buscando a contribuição teórica dos filósofos de diferentes tempos, é
importante analisar na atualidade, a importância das reflexões filosóficas, desde
seus primórdios. Nas palavras de Lipman:
Mas o que os antigos gregos reconheceram foi mais ou menos o
mesmo que hoje muitos professores e diretores começam a
perceber. Uma vez que o ato de pensar, levado a sua essência,
culmina na filosofia, então o instrumento mais preciso já projetado
com esse fim também é filosofia por excelência. Talvez uma breve
consideração sobre o nascer da filosofia na Grécia há 2.500 anos
possa esclarecer algo sobre o importante papel que se passou a
creditar á filosofia, a partir da década de 70 (LIPMAN, 2001, p. 09 11).
Continua Lipman descrevendo a integração da filosofia com a literatura, enfim
outras áreas do conhecimento, ou do próprio conhecimento, sua construção ou
reconstrução:
De fato, antes de Aristóteles, a filosofia esteve sempre incorporada a
algum veículo literário. Nos aforismos de Heráclito ou nos poemas de
Parmênides, bem como mais tarde nos diálogos de Platão. [...]
Assim, quando finalmente a filosofia surgiu, ela era filosófica em sua
originalidade e autonomia, científica em seu interesse em propor
afirmações sobre a natureza das coisas e artística em seu modo de
apresentação (LIPMAN, 2001, p. 09 -11).
As respostas dos alunos e professores demonstram a superação de uma
discussão dualista. Mesmo assim, está presente uma forte influência que as
concepções dualistas exercem sobre a Filosofia, e mais ainda sobre os leigos,
muitos pensadores a consideram superada.
A concepção dualista já na época de Descartes (1596-1650), foi questionada
por ser considerada insatisfatória a solução de situações a partir da interação entre
mente e corpo. Um desses questionadores foi Espinosa (1632-1677), que já
defendia uma outra filosofia da mente fundada em uma outra ontologia. Para ele a
mente e o corpo não eram duas substâncias diferentes e sim dois atributos
diferentes da mesma substância, a saber, Deus.
77
Conforme Chalita (2005, p. 243): “Deus, ou natureza, se manifestam através
das leis da natureza que são eternas, imutáveis e inteiramente determinadas pela
necessidade da natureza divina”.
Uma outra alternativa ao dualismo interacionista cartesiano na modernidade
foi apresentada por Malebranche (1638-1715). Ele propôs a concepção do
Ocasionalismo. Ele sustenta a teoria das causas ocasionais na qual todas as
atividades da alma são, na realidade, causas ocasionais, agentes unicamente pela
eficácia da vontade de Deus. Deus seria a única verdadeira causa eficiente do
acordo entre os movimentos do corpo e as idéias da alma.
Atualmente outros pensadores têm se somado ao enfrentamento com
Descartes, na defesa de alterantivas ao dualismo, difundindo a idéia que há uma
complexidade maior que a simples interação entre corpo e alma, sendo que a última
seria eterna, desprendendo-se do corpo físico ou ainda que existe apenas duas
possibilidades de qualificação de pessoas, entre o bom e o mau.
De acordo com filósofos contemporâneos há outros parâmetros para
discussões filosóficas, como as propostas inter e transdisciplinares. Nesse contexto
é preciso que o professor assuma sua condição de fomentar as discussões
filosóficas, sempre considerando as sugestões dos estudantes e propondo reflexões
com segurança. Ensina Carminati:
Nesse sentido, a ação do professor deve levar em conta o desafio de
transformar as experiências, gerando ambientes de aprendizagem e
construindo conhecimentos. Assim, esse profissional deve possuir
uma sólida formação filosófica e cultural a fim de que os
conhecimentos ensinados e construídos sejam interdisciplinares,
rigorosos e históricos. Além disso, os professores devem demonstrar
capacidade de pensar filosoficamente os diversos problemas trazidos
pelos alunos, sendo críticos e autocríticas, tanto em sua intervenção
no mundo profissional e cultural. (CARMINATI, 2003, p. 60-61).
A quinta questão trata da formação humana e sua relação com o mercado de
trabalho: “5 Quais reflexões filosóficas contribuem para a formação humana?”
Percebe-se a importância destinada a ética na resposta dos professores:
Os princípios da ética.
Reflexões quanto às mudanças que vêm ocorrendo em nossa
sociedade, fruto de novas descobertas.
“Ética, política, estética, lógica, mostrando novas maneiras de olhar,
perceber e pensar o mundo”.
Considerando ser o filósofo como [...]
78
Uma ciência da sabedoria deve ser aquela que faça o ser se
descobrir e faça aquilo que lhe dá satisfação.
São manifestações que aumentam os desafios em relação aos assuntos
apresentados pelos professores, como efetivamente objetos de reflexão. Nesse
sentido explica Assmann:
As reflexões que seguem caminham sobre o vetor da seguinte
pergunta: por que ligar conhecimento a complexidade no plano da
pedagogia? Há uma razão muito simples: pelo fato de ser muito
limitado nosso sensoriamento perceptivo da realidade, quase
instintivamente, preferimos simplificar as coisas, isto é, recortamos
os fenômenos para facilitar-nos uma suposta compreensão do
mundo. (ASSMANN, 2001, p.102).
O mais importante é compreender a necessidade da continuidade da reflexão
diante dessa tendência aos recortes. É um desafio de grande amplitude que requer
dedicação e competência. Nesse sentido se expressa Altair Alberto Fávero:
É possível verificar que esses professores de filosofia buscam um
ensino mais ativo nos diversos níveis, que não fique circunscrito à
análise e explicação de textos, até recentemente predominante, por
influência da escola francesa. Em geral a metodologia de Lipman é
aplicada nas escolas sob supervisão do Centro Brasileiro de Filosofia
para Crianças (CBFC) ou de seus afiliados. [...] Numa perspectiva
mais analítica, podemos afirmar que o aspecto mais positivo que
encontramos nas metodologias hoje utilizadas no Brasil para o
ensino de filosofia na educação média é a abertura. [...] Sendo
assim, o professor de filosofia pode usar criativamente seus
conhecimentos e suas capacidades. (FÁVERO, n° 64, 2 004, p. 273).
A questão seis, tem por objeto o aspecto da formação pessoal: “6 Qual a
importância da Filosofia para sua formação pessoal?” Nas falas é possível perceber
a compreensão da importância da Filosofia na sua vida pessoal e profissional, pela
abrangência desta sobre esses aspectos:
A Filosofia tem tudo a ver com nossa Formação, pois ela nos abre os
horizontes, faz nos refletir com profundidade sobre os valores e
princípios da nossa vida, de que a sociedade nos impõe e qual nossa
decisão frente a isso.
As respostas remetem para uma Filosofia significativa, importante para o
aperfeiçoamento pessoal e profissional. Como forma de permanente reflexão para
superar obstáculos e desafios.
A Filosofia adquire importância imensurável na discussão da formação, dos
valores e princípios éticos. Contribui no entendimento desse processo os
ensinamentos de Morin:
79
A tarefa, então, é suplantar essa realidade, mas isso não se faz
senão a partir de um modo de pensar novo, não apenas por
alternativas decorrentes de programas disciplinares, muitas vezes
emergenciais e dissociados, mas a partir de mudanças dos
paradigmas e enfoques teóricos e práticos que orientam a formação
e prática dos professores. [...] “o global é mais que o contexto, é o
conjunto das diversas partes ligadas a ele de modo inter-retroativo ou
organizacional. Desta maneira, uma sociedade é mais que um
contexto: é o todo organizador de que fazemos parte” (MORIN, 2001,
p. 35-37).
Após a análise dos antigos pensamentos e pensadores filosóficos e
realização da pesquisa, é possível dizer, que estão presentes inúmeras situações
que demonstram uma nova visão do pensamento filosófico, no entanto sem perder
de vista a importância que a mesma representa, na vida das pessoas e nas relações
sociais estabelecidas entre as pessoas.
80
CONCLUSÃO
Concluir o mestrado, apresentando a dissertação é um momento singular.
Reflete o quanto a pesquisa é um instrumento que amplia nossas reflexões
acadêmicas. O desafio da presente dissertação foi uma reflexão em torno do tema
da filosofia como disciplina de caráter oficial e obrigatório nos cursos de ensino
médio.
No primeiro momento, apresentamos a justificativa, a problemática de
pesquisa, os objetivos e a proposta metodológica. Forma refletidos os demais
elementos que sustentam diversos temas que permeiam os conteúdos de filosofia.
Vários autores, filósofos gregos, pensadores da Idade Média e Moderna foram
convidados pra darem as suas contribuições em torno de temas e de sua
importância como filosofias no contexto da educação e da vivência em sociedade.
Na pesquisa de campo, foi possível identificar as dificuldades dos
professores/professoras que se preocupam com as diversas dimensões que
envolvem o conhecimento humano. Entre elas o dualismo e as posições que se
contrapõem a mesma, na construção de espaços da Filosofia e das Ciências
Humanas em sociedades industriais e tecnológicas.
Na formulação do problema tivemos a preocupação de verificar a existência
de olhares distintos de profissionais diplomados ou não que atuam como docentes
de filosofia nas unidades escolares selecionadas. Sobre isso é importante registrar
que não forma constadas diferenças significativas enquanto atuação profissional
bem como nas reflexões filosóficas propostas e desenvolvidas em sala de aula.
Os dados foram coletados junto às escolas de Ensino Médio do município de
Maravilha. São quatro escolas que oferecem este nível de ensino: Duas escolas
públicas do ensino regular, a EEB João XXIII e EEB Nossa Senhora da Salete, uma
escola particular, Centro de Educação Universo do Saber (CEUS) e Escola de
Educação de Jovens e Adultos (CEJA).
Em todas as unidades escolares, as respostas dos estudantes e professores,
diante dos instrumentos de coleta de dados, demonstraram o interesse pela filosofia
e os temas propostos para a reflexão. A compreensão da importância da mesma,
como oportunidade de reflexão também está presente em todas elas. É possível
81
dizer que, nestas escolas a filosofia pode ser considerada, como uma referência
para outros ramos do conhecimento.
No capítulo segundo, fez-se um apanhando da filosofia, como ciência que
impulsionou o ser humano na reorganização de entendimentos tendo como base o
campo das idéias. Nesse processo histórico da filosofia, foi se confirmando a
necessidade de aceitar pensamentos divergentes para interagir com a realidade.
Reforça-se a concepção de que a razão do ser humano é exercitada pela
inquietação transformada em procedimento capaz de visualizar profundamente o
campo das hipóteses.
Segundo o levantamento histórico, a Filosofia é uma palavra de origem grega,
cujo significado é: philos, significando amigo, amor; e sofia, sabedoria, saber.
Pitágoras foi o filósofo que inventou a palavra filosofia, ele afirmava que a sabedoria
plena e completa pertence aos deuses, mas os seres humanos podem desejá-la ou
amá-la, tornando-se filósofos, ou seja, o verdadeiro sábio é aquele que ama e
deseja ampliar cada vez mais seus conhecimentos e saber desvendar os mistérios
sobre o mundo onde vive.
Outro filósofo que ofereceu grande contribuição foi Aristóteles. Segundo ele
apenas o homem viveria a vida completa da natureza, pois, cresce se alimenta como
as plantas, têm sentimentos e a capacidade de se mover como os animais, mas
também possui a capacidade de pensar racionalmente.
As contribuições de Sócrates, também continuam merecendo destaque no
pensamento da atualidade e na prática educacional de todo ser humano.
A forma de pensar dos gregos fundamenta as formas de pensar do ocidente.
O período da Idade Média, no qual predominou o cristianismo dominou e influenciou
todos os setores da sociedade, não permitindo que se pensasse de outra forma que
não fosse a contida nos ensinamentos bíblicos, fechando as portas para a Filosofia.
Na Idade Moderna, com a configuração do projeto da sociedade capitalista, a
burguesia traz uma visão científica, crítica, antropocêntrica e radical do universo, do
homem e da sociedade. A valorização e a busca da razão das coisas são os
princípios da ciência inspirada no racionalismo burguês, que tem no controle
econômico, político e ideológico da sociedade uma de suas características.
82
A Filosofia contemporânea trata dos problemas e das diferentes inquietações
que afetam a humanidade. O filósofo alemão Hegel, no século XIX, afirma que a
Filosofia é a História e o modo de ser da razão e da verdade, o modo de ser dos
seres humanos e que, portanto, somos seres históricos. Essa é uma das
contribuições que permite ser o século XX, o grande século da descoberta da
História ou da historicidade do homem, da sociedade, das ciências e das artes,
afirmando-se a Filosofia como protagonista das reflexões humanas.
A nova proposição sobre as reflexões filosóficas demonstra que a Filosofia
tem por pretensão dar ao homem uma consciência do seu tempo e do seu
compromisso
pessoal
e
social.
Há
uma
inclinação
pela
humanização,
compreendendo a realidade, tendo a vida acima de qualquer princípio humano.
Enquanto disciplina escolar, no Brasil, a Filosofia sofre diversos reveses,
tendo sido retirada definitivamente do currículo do Ensino Médio na década de 1970
com a entrada em vigor da Lei nº 5692/71, uma proposta educacional que valoriza a
técnica, visando a profissionalização. O tecnicismo representou um retrocesso na
implementação da Filosofia na escola brasileira, mas resistências atuantes,
reivindicavam a reintrodução e manutenção da Filosofia no currículo escolar.
O movimento pela reintrodução da disciplina de Filosofia nas escolas, não
conquistou o sucesso esperado no tempo pretendido. Foram diversos os problemas,
como o das instituições formadoras que não conseguiram assegurar o papel de
promover a reflexão nos seus espaços acadêmicos e, por conseqüência, a formação
de profissionais ficou prejudicada.
Superadas inúmeras dificuldades, houve um crescimento do interesse pela
disciplina e a percepção da importância estratégica que ela desempenha na
formação do indivíduo, E nas discussões acerca da criatividade, da qualidade de
vida, da solidariedade, entre outros. Isso impõe a necessidade de assegurar a
reflexão sobre as questões sociais, econômicas, culturais, educacionais, religiosas,
políticas em todos os campos do pensar humano.
No dia 7 de julho de 2006, o Conselho Nacional de Educação, aprovou por
unanimidade, a obrigatoriedade da Disciplina de Filosofia nas escolas de Ensino
Médio, o que ainda não estava assegurado te na Lei n° 9.394, a atual Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Brasileira - LDB.
83
Em Santa Catarina, mesmo com a implementação do Sistema Estadual de
Educação, a Lei Complementar 17.098, não há a garantia da presença da Filosofia
no currículo escolar. Somente com o advento da Lei Complementar nº 173, de 21 de
dezembro de 1998, que dá nova redação ao parágrafo único do artigo 41, da Lei
nº170/98 é que se torna obrigatória a introdução da Filosofia como disciplina do
currículo oficial.
Exercitar a reflexão e estimular o desenvolvimento do ser humano é condição
para colaborar com a evolução da condição humana.
A mudança de postura, diante de explicações passadas, é o fundamento do
ato de filosofar. Acompanhar as alterações de tudo que está em volta de si mesmo é
a principal causa da necessidade de mudança de pensamento, a fim de melhor se
posicionar na vida, descobrindo, sua razão de ser.
A Filosofia tem um papel estratégico na sociedade contemporânea, qual seja
de “interrogar a condição humana”, como e por que ainda estamos em determinada
situação. A formação do educador/educando de Filosofia – mesmo reconhecendo
que é uma responsabilidade de todos – não pode estar unicamente balizada em
conceitos de um ou outro filósofo, mas na diversidade das idéias e concepções.
É necessário que o conhecimento das ciências e as tecnologias nelas
envolvidas, transcenda esses aspectos. Fazê-lo é permitir-se, através da filosofia
uma reflexão profunda sobre fatos que a história, por seus desígnios, possa gerar.
As instituições universitárias que formam os docentes de filosofia devem repensar
pressupostos, considerados básicos dessa formação.
Uma alternativa é a superação do individualismo laureado pelo mundo
capitalista, cedendo espaço e fomentando uma cultura capaz de garantir uma
concepção coletiva. Esse desafio envolve O aprofundamento das reflexões que
sobre a ética, a cidadania e a solidariedade. Entre as diversas contribuições
apresentadas pelos alunos, essa é apresentada como possibilidade de reflexão das
questões que envolvem a Filosofia em si, bem como as dificuldades que enfrentam
no seu dia-a-dia.
Essa rearticulação deve contemplar a reflexão não apenas de conteúdos
escolares/curriculares, mas atingir aspectos éticos e sociais, contextualizando o
debate e as reflexões filosóficas.
84
A pesquisa de teórica e de campo deixa evidenciado a urgência do desafio de
preparar professores conscientes da importância da reflexão filosófica. Essa
formação deve ser de forma partilhada e democrática, com uma visão crítica,
instituindo novas relações entre o conhecimento pedagógico e o conhecimento
científico.
É preciso compreender a responsabilidade dos educadores, das escolas e,
também, das autoridades, pois é a partir da mobilização da comunidade escolar que
o Poder Público será motivado ou mesmo pressionado a promover a efetivação
derradeira da disciplina de Filosofia.
É indispensável que uma tomada de posição definitiva seja tomada, para que
de vez a disciplina de Filosofia esteja presente em todos os currículos e todas as
escolas brasileiras, seja ela pública ou privada. Parece ser imprescindível uma
assimilação completa da necessidade da implementação da Filosofia de forma a
contribuir com as reflexões a que a mesma se propõe para tornar possível que as
escolas consigam motivar alunos e professores para as reflexões filosóficos
propostas nos Parâmetros Curriculares Nacionais.
A educação no século XXI está sentindo a influência de campos de forças
conflituosas, como a falta de democracia e a negação da possibilidade do debate de
temas relevantes. Essa condição gerada no século passado, e repassados a este
século através de uma interface ainda pouco conhecida e carente de análises mais
duradouras e profundas, tendem a persistir na sua trajetória.
Os conhecimentos estão em plena ebulição, em todos os aspectos e campos
das ciências. Destaca-se a complexidade que no parecer de Morin (2002), diante da
multiplicidade de opções disponíveis é preciso conhecer e pensar não chegar a uma
verdade absolutamente certa, mas dialogar com a incerteza.
O professor que não tem a habilidade de explicitar situações complexas,
desafiantes e conflituosas pode provocar desinteresse nos alunos como esclarece
Charlot (1986):
A Filosofia como ciência não deve contrapor-se a Filosofia como disciplina
que, ao ser ministrada pelo professor, toma dimensões conotativas que muitas
vezes transpõem causas inerentes de sua aplicação. Os resultados da
85
impossibilidade da discussão da Filosofia nas escolas impediu sua contribuição nas
reflexões dos temas sociais que contribuem para a formação da cidadania.
A escola tem papel importante a desempenhar no processo de construção e
reconstrução no que tange a ação e a interpretação no processo educativo.
Perpassa também sob sua responsabilidade a participação do sujeito autônomo, na
elaboração e reelaboração de uma sociedade mais justa, na valorização humana.
A disciplina de Filosofia procura uma compreensão ampla e profunda das
relações sociais e aspectos éticos que envolvem os seres humanos e suas relações.
Situa-se no todo, não tem limites e por isso deve ser a base para a reflexão no
campo das ciências sociais e humanas da realidade que os permeiam. Torna-se
uma força de atuação, de mudanças e compreensão do mundo real e imaginário. É
ela que pergunta, indaga, questiona, analisa, denuncia, critica e faz transformar as
diversas realidades.
A atitude da Filosofia é possibilitar o desmascaramento das incoerências, da
alienação e das ideologias apresentadas, bem como as ocultas a elas. Trata-se das
revelações vividas e as funções da vida prática. Pois a vida é maior que a ciência
ou de qualquer outro discurso sobre ela própria. A final para que serve a Filosofia? E
o que fica dessa trajetória de indagações, desafios e reflexões?
O conhecimento escolar poderá vir a ser um conhecimento significativo e
existencial na vida dos seres humanos, se ele chegar a ser incorporado pela
compreensão, exercitação e utilização nos desafios diários. O que importa é que
cada pessoa, cada escola, cada criança, cada jovem adulto, consiga entender a
realidade que está a sua volta e a transcendê-la.
Portanto, a Filosofia propõe desafios ao ser humano, como ensina Gramsci
(1985): Ensinar o aluno a pensar, refletir, é tarefa fundamental para um despertar
para a vida e para o mundo e a filosofia uma forma dessa manifestação e
transformação social. Ela contribui para que crianças, jovens e adultos aprendam e
contribuam para a interdisciplinaridade a fim de possibilitar e imprimir nas pessoas
as idéias do bem, da justiça e da honestidade. A escola é espaço privilegiado para
essa reflexão.
Retomando os objetivos, foi percebido na fala dos colaboradores que há uma
ligação entre os conteúdos da Filosofia e a produção do conhecimento,
86
especialmente ao falar da aprendizagem, como era a um dos desafios expressos em
um objetivo: “Verificar quais temas são levados pelos professores para serem
refletidos junto aos alunos.”
A relação da Filosofia com a construção e reconstrução do conhecimento tem
uma relação com o processo educacional. O comprometimento do professor é
indispensável na construção de uma proposta pedagógica capaz de respaldar as
diferentes contemplações dos estudantes com respeito aos temas apresentados por
ele ou então sugeridos pelos próprios alunos. Neste sentido, o profissional que
ministra aula de Filosofia deve ser capaz de motivar para o exercício das relações
indispensáveis ao aprendizado de significações sociais.
No atual momento, uma reflexão indispensável está relacionada com os
aspectos da natureza, como sugerem pesquisados. Não uma natureza ambiental,
mas a natureza que envolve as relações humanas e suas produções tecnológicas.
A situação lançada como desafio às unidades de refletir sobre os temas que
envolvem a vida dos alunos e seu contexto individual e global gera, ao mesmo
tempo, uma virtude de assegurar um processo reflexivo e de outro gera insegurança
ao enveredar pelo viés de assumir compromissos acima de sua possibilidade.
Outro olhar, no qual se pretendia observar o sentimento dos estudantes com
relação aos conteúdos e a sua contribuição nas reflexões, expresso em um dos
objetivos: “Verificar o que os estudantes do Ensino Médio pensam em relação às
reflexões feitas nas aulas de Filosofia.” Nesse olhar surge a preocupação dos
colaboradores com os diversos aspectos do mundo do trabalho.
Diversos excertos das falas merecem destaque, ao fazer referência à
formação da consciência a partir das reflexões filosóficas: “ética; pensar sobre a
vida; política; auto-confiança; evoluir o conhecimento; sentimentos e emoções;
violência; ética no trabalho; pensar diferente; crescer como pessoa; aprender muito.”
São esses alguns dos olhares pelos quais os colaboradores sugerem
exercitar suas reflexões. Está expressa a intenção compreender os horizontes da
vida, da compreensão do mundo. Essa compreensão não é estática, pois, sugere a
identificação dos problemas, as reflexões que os envolve e as possibilidades de
soluções. Isso tudo sem indicar uma, já que ao tratar do futuro é impossível qualquer
prognóstico.
87
Procurei fazer, no decorrer do presente texto, diversos ensaios de refletir
sobre as falas dos colaboradores, alunos e professores. No entanto, o mais
importante é reconhecer e compreender aquilo que ficou evidenciado na fala dos
professores, qual seja a necessidade da continuidade da formação para a flexão.
Esse desafio passa necessariamente pelo suporte em referenciais teóricos para
assegurar a fidelidade e seriedade da discussão/reflexão.
A Filosofia foi referenciada como de significativa importância para o
aperfeiçoamento pessoal, para a formação humana, para a reflexão sobre a
condição existencial, o ser e o estar aqui, sem negligenciar os inúmeros desafios da
formação profissional.
88
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cursos, revistas e entidades da ares. São Paulo: AMPOF, 1980.
_______. A Filosofia contemporânea no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1999.
_______. Filosofia. São Paulo: Cortez, 1993.
_______. Como estão sendo formados os nossos educadores. In: SEVERINO, A. J.
Filosofia da Educação. São Paulo: FTD, 1994b.
SILVA, Franklin L. Por que filosofia no II grau. São Paulo: Revista de Estudos
Avançados. 1992, p. 157-166.
SILVA, Janice Miot da e NESI, Maria Juliani. Filosofia: de suas origens gregas ao
renascimento. Florianópolis: UDESC: FAED: CEAD, 2001.
STRIEDER, Roque. Educar para a iniciativa e a solidariedade: por uma nova
mentalidade pedagógica. Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 2000.
_______. Educação e Humanização: por uma vivência criativa. Florianópolis, Ed.
Habitus, 2002.
92
TREVISOL, Joviles Vitório. Como elaborar um artigo científico. Orientações
metodológicas a partir das novas normas da ABNT (NBR: 6023, 2000) 2 ed.
Joaçaba: Edições UNOESC, 2001.
VERGARA,
Sylvia
Constant.
Projetos
e
Administração. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000.
Relatórios
de
Pesquisa
em
93
ANEXOS
94
UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA – UNOESC
PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
PESQUISADORA: NATALINA SALETE BORTONCELLO DA SILVA
ORIENTADOR: PROF. DR. ROQUE STRIEDER
INSTRUMENTO DE PESQUISA PARA PROFESSORES (AS) DE FILOSOFIA DO
ENSINO MÉDIO (professores)
1 DADOS DO (A) PROFESSOR (A)
1.1 IDENTIFICAÇÃO (escola) ___________________________________________
1.2 Data de nasc.____/____/______ Cidade _______________________ UF _____
1.3 Sexo: ( ) Fem.
( ) Masc.
2 FORMAÇÃO ACADÊMICA
2.1 Curso de graduação ________________________________________________
Instituição ___________________________________________________________
Habilitação para a disciplina de Filosofia: ( ) sim
( ) não
Possui outro Curso Superior: ____________________________________________
Instituição ___________________________________________________________
2.2 Você concluiu ou está cursando algum curso de Pós-Graduação?
( ) sim
( ) não
Qual?
( ) especialização
( ) mestrado
( ) doutorado
Em qual área: ________________________________________________________
2.3 Escola de atuação:
( ) EEB Nossa Senhora da Salete
( ) EEB João XXIII
( ) Centro de Educação de Jovens e Adultos – CEJA
( ) Centro de Educação Universo do Saber – CEUS
3 A forma metodológica de apresentar os conteúdos é uma motivação para pensar e
refletir os conteúdos propostos?
( ) sim
( ) não
Justifique ___________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
4 Que assuntos são relevantes para promover as reflexões na disciplina de
Filosofia?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
5 Quais reflexões filosóficas contribuem para a formação humana e o mercado de
trabalho?
___________________________________________________________________
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___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
6 Qual a importância da Filosofia para a sua formação pessoal?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
7 Qual/quais as concepções filosóficas que você segue?
( ) Positivismo
( ) Marxismo
( ) Fenomenologia
( ) Estruturalismo
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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA – UNOESC
PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
PESQUISADORA: NATALINA SALETE BORTONCELLO DA SILVA
ORIENTADOR: PROF. DR. ROQUE STRIEDER
INSTRUMENTO DE PESQUISA PARA PROFESSORES (AS) DE FILOSOFIA DO
ENSINO MÉDIO (estudantes)
1 DADOS DO (A) ALUNO (A)
1.1 IDENTIFICAÇÃO (escola) ___________________________________________
1.2 Data de nasc..____/____/______ Cidade __________________________ UF __
1.3 Sexo: ( ) Fem.
( ) Masc.
2 Escola que estuda:
( ) EEB Nossa Senhora da Salete
( ) EEB João XXIII
( ) Centro de Educação de Jovens e Adultos – CEJA
( ) Centro de Educação Universo do Saber – CEUS
3 A forma do professor apresentar os conteúdos é uma motivação para pensar e
refletir os conteúdos propostos?
( ) sim
( ) não
Justifique
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
4 Que assuntos são relevantes para promover as reflexões na disciplina de
Filosofia?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
5 Quais reflexões filosóficas contribuem para a formação humana e o mercado de
trabalho?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
6 Qual a importância da Filosofia para a sua formação pessoal?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________